Grafite do Século Primeiro

Grafite do Século Primeiro

by Stephen Davey

Grafite do Século Primeiro

Atos 8.1–8

Introdução

Lembro-me de uma reportagem do jornal local de nossa cidade. Era a respeito de um grupo de vândalos grafiteiros que haviam pichado uma escola. Eram mensagem, símbolos e borrões nas paredes de tijolo e nas vidraças, o que vai levar bastante tempo e dinheiro para reparar.

Li uma vez que o grafite tem feito parte da vida do ser humano desde que este passou a existir. Na verdade, a palavra “graffito” significa “fazer uma mensagem.” Foi utilizada pelos arqueólogos para se referir aos escritos e desenhos que escavaram na Roma antiga. Parece que o grafite foi um meio de comunicação muito tempo antes de ser usado nas paredes de uma escola me vandalismo.

No mundo romano antigo, apenas os documentos e cartas muito importantes eram escritos em papéis caros da época, que era o papiro e o couro. As mensagens do dia-a-dia  eram escritas nos rebocos de paredes públicas e casas particulares por todo o império. Era, na verdade, uma forma de comunicação aceitável.

Gary Stanley que os assuntos que exigiam o grafite incluíam anotações de eleições, propagandas, cartas de amor, lista de compras, letras de músicas e frases religiosas. O nome de Cristo aparece em uma ou duas paredes.

Em nosso estudo em Atos da Jerusalém do primeiro século, no primeiro ou segundo ano da igreja primitiva, mensagens escritas em paredes e passagens públicas na cidade revelam declarações positivas a respeito do Cristianismo. Poso imaginar mensagens dizendo: “Eu era cego, mas agora posso ver, literalmente!” ou “Cristo é o sacrifício final!”

Os líderes religiosos estavam enraivecidos com a ideia de o Cristianismo se tornar uma religião estável. Eles até reclamaram que os apóstolos haviam enchido Jerusalém com seus ensinos. Uma mensagem de grafite que podemos imaginar que teria enfurecido os líderes religiosos se tivesse sido escrita numa parede próxima ao templo era: “Jesus Cristo está vivo!”

Pelo livro de Atos, sabemos que a igreja de Jerusalém era admirada pelo povo da cidade. Mesmo até os eventos de Atos 7, a igreja era respeitada, reverenciada e popular com as massas... popular até demais.

De repente, contudo, acabou. Um líder da igreja chamado Estêvão foi assassinado por uma gangue. Bondade foi substituída por crueldade; favor do povo foi transformado por perseguição. Quando a cena se abre em Atos 8, o Cristianismo é agora considerado o “inimigo público número 1.”

 

Apresentando Saulo o Fariseu:
O “Grande Inquisidor”

Se você abrir sua Bíblia comigo em Atos 8, iremos descobrir as palavras no meio do verso 1:

...Naquele dia [o dia em que Estêvão foi martirizado], levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém...

A pichação de grafite nas paredes agora diria: “Morte aos seguidores de Jesus.”

Não demoraria muito para que os crentes começassem a ser lançados aos leões em arenas romanas. Seriam acusados de canibalismo, por causa de um mal-entendido a respeito da observância da ceia. Os cristãos também seriam os acusados por trazerem enchentes, furacões e outros desastres naturais.

Os crentes receberam a culpa pelo fogo que devastou grande parte de Roma, apesar de a história revelar que o próprio Nero começou o fogo a fim de aumentar os impostos para construir novas edificações na cidade. A história também conta que Nero começaria a espetar os crentes em postes, cobri-los com piche e usá-los como tochas para iluminar os jardins durantes festas romanas.

O início das perseguições, entretanto, não era Nero que os crentes temiam – era um líder fariseu chamado Saulo. Saulo foi o homem que, de si mesmo, assumiu o papel de inquisidor supremos e grande executor dos cristãos.

A primeira vítima, executada na presença de Saulo, foi Estêvão.

O verso 2 nos informa: Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram grande pranto sobre ele.

De acordo com a Mishnah, um termo hebraico para Lei Oral Judaica, era contra a lei lamentar publicamente a morte de um criminoso condenado. Esses homens estavam tão entristecidos com a morte de Estêvão que violam a lei com suas lágrimas.

E os apóstolos? A última parte do verso 1 nos diz que eles permaneceram em seus postos. Havia muito trabalho a ser feito em Jerusalém, apesar de estarem arriscando suas vidas em ficar lá. Jerusalém ainda era um campo missionário e eles evidentemente decidiram usar o ministério de lá como a base de suas operações, pelo menos por enquanto.

Veja o verso 3.

Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere.

A palavra “assolava” é um termo grego comumente usado para se referir a um animal selvagem estraçalhando suas vítima. Com violência, Saulo rasgava famílias pelo meio – carregando mães, pais, homens solteiros, adolescentes, qualquer um que fosse fiel ao nome de Jesus Cristo. Ele estava determinado a acabar com suas vidas.

Abra sua Bíblia em Atos 22, onde Saulo, agora com nome de Paulo, conta o seu próprio testemunho diante dos líderes religiosos. Veja os versos 4 e 5.

Persegui este Caminho até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres, de que são testemunhas o sumo sacerdote e todos os anciãos. Destes, recebi cartas para os irmãos; e ia para Damasco, no propósito de trazer manietados para Jerusalém os que também lá estivessem, para serem punidos.

Pule até os versos 19 e 20:

Eu disse: Senhor, eles bem sabem que eu encerrava em prisão e, nas sinagogas, açoitava os que criam em ti. Quando se derramava o sangue de Estêvão, tua testemunha, eu também estava presente, consentia nisso e até guardei as vestes dos que o matavam.

Vá, agora, para o capítulo 26, versos 10 e 11:

E assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido autorização dos principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra estes dava o meu voto, quando os matavam.  11 Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia.

Não é difícil de entender por que a igreja temia profundamente esse homem. O último homem na terra que você imaginaria que se tornaria um crente era Saulo. Mais tarde falaremos sobre isso.

Reapresentando a Igreja:
“Inimigo Público Número 1”

Antes de prosseguirmos no texto, vamos parar um pouco e fazer uma panorama dessa cena. Vamos fazer como uma música que meus filhos ouviam quando pequenos. As crianças diminuíam para poderem entrar numa colmeia de abelhas. Quando estudamos a Palavra de Deus, imaginar a cena e como você reagiria pode ajudar a esclarecer passagens como essa que estamos estudando.

Imagine como deve ter sido fazer parte da primeira igreja na face da terra. Você experimentou todo o louvor, amor, favor e grande estima que Jerusalém ofereceu. Cada pessoa com quem você conversa, fala bem sobre Cristo; existe um testemunho nos lábios de milhares de pessoas e elas cantam louvores a Jesus. Você faz parte desse milagre. O Cristianismo abençoa uma pessoas após a outra; uma oração respondida após a outra; um milagre depois do outro. Sua igreja está explorando, tendo um crescimento médio em torno de dez mil pessoas por ano. Imagine encontrar um lugar para estacionar o seu jumento! A vida se tornou uma contínua experiência de crescimento nas alturas, uma nova aventura.

De repente, você se torna objeto de ódio, menosprezo e suspeita. Logo log, você perde seu emprego e sua casa. O evento que parecia ter dado início a tudo isso foi o funeral de um querido líder da igreja.

Por que Deus não parou a matança? Por que Ele não para agora?

Eu tenho um artigo sobre a perseguição dos crentes pelos comunistas no Vietnã. Deixe-me ler para você.

O Congresso do Oitavo Partido Comunista se encontrou em junho e jurou “restaurar a autoridade do partido em cada faceta da vida vietnamita.” Em maio de 1996, a polícia arrombou um local e interrompeu uma reunião de catorze líderes de igrejas das minorias tribais na parte central do país. Após bater severamente no tesoureiro do grupo, eles confiscaram os registros das cinquenta e três igrejas do distrito (todas elas parte do movimento das igrejas nos lares; ou do movimento das igrejas não registradas). Durante um período de seis meses, todos os pastores de todas as igrejas foram convocados e forçados a renegar sua fé ou sofrer espancamentos, caso resistissem.

Num incidente isolado, Ha Seing, um pastor de quarenta e um anos de idade da tribo Koho, apanhou com cassetetes de ferro da polícia até ficar inconsciente. A polícia, depois, ficou preocupada porque ele não reagia mais e mandou chamar a família para levá-lo ao hospital. Agora ele se encontra no hospital mental em Vinh Hoa, onde os médicos confirmaram que ele tem sérios danos cerebrais causados pelos espancamentos.

Como disse em nosso último estudo, a estimativa atual de crentes que são martirizados por causa da fé no século passado já excedeu todos os séculos anteriores juntos.

Existem respostas? Podemos explicar a morte de Estêvão? Você tem como explicar por que Deus deixou isso acontecer com um de Seus servos fiéis? Você tem respostas para essas perguntas?!

Não, você não tem, a não ser que olhemos pelas lentes da história. O tempo irá fornecer respostas a todos os crentes espalhados e todos os lares quebrados e todas as palavras finais dos mártires. Nesse período da história da igreja do primeiro século, a resposta está prestes a chegar.

Voltando à Ordem de Cristo

Veja o que ocorre em Atos 8, verso 4: Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra.

Agora, a palavra “pregando” é a palavra grega “euaggelion,” que dá origem à nossa palavra “evangelho” ou “evangelizar.” Isso simplesmente significa que esses homens e mulheres, jovens e velhos, deixaram Jerusalém e foram para as vilarejos e cidades, como se tivessem sido enviados numa missão. E a verdade é que eles estavam numa missão!

Volte para Atos 1, verso 8:

Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.

Essa é a missão! É hora de expandir.

Jerusalém havia se tornado confortável. Louvor das pessoas e crescimento incrível, então, por que sair para territórios desconhecidos?!

Dê uma olhada mais cuidadosa no alvo bíblico para o evangelho no verso 8 – é tão grande quanto o mundo. E começou em Jerusalém.

Agora, Deus está mobilizando a Sua igreja para a segunda fase da grande comissão. A igreja, como um todo, permaneceu viva e bem somente porque estavam dispostos a transferir sua mensagem e esforços para locais diferentes.

Eles poderiam ter facilmente dito: “Não fazemos evangelismo com os samaritanos! Já temos uma estratégia traçada para alcançarmos Jerusalém. Esse é o nosso mercado.”

Esses crentes estavam dispostos, assim como o sal, a serem chacoalhados e retirados de seu saleiro confortável. Eles não pararam a mensagem porque Deus lançou o barco às pedras, mas simplesmente se mudaram para um outro local.

Note, agora, o verso 5 no capítulo 8: Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo.

E essa é uma declaração fenomenal! Samaria era o último lugar na terra para o qual esperaríamos ver em evangelistas indo, especialmente se você fosse de Jerusalém.

Talvez você se recorde, os samaritanos era raça misturada. Eles eram descendentes de judeus que haviam se casado com assírios. Os judeus de Jerusalém os desprezavam. Na verdade, um judeus ortodoxo orava toda manhã agradecendo a Deus por não ser um samaritano.

Tudo começou quando os judeus decidiram reconstruir e consertar o templo de Jerusalém. Os samaritanos, que tinham vindo de Samaria que ficava bem próxima, se voluntariaram para ajudar. Afinal de contas, eles adoravam o mesmo Deus de Abraão e Isaque e Jacó. Mas, porque tinham o sangue misturado, os judeus puros imediatamente recusaram sua ajuda. Como resultado, os samaritanos construíram o seu próprio templo, comissionaram seu próprio sumo sacerdote e passaram a adorar em sua própria cidade.

Samaria era uma terra carregada de amargura. E, agora, aqui está um homem vindo de Jerusalém. Eles pensam: “O que ele tem para nós?”

O verso 5 diz: anunciava-lhes a Cristo.

Filipe não proclamou o judaísmo para os samaritanos – eles não confiavam naquilo. Ele não proclamou religião – eles estavam cheios disso. Filipe pregou o Cristo – o que Cristo disse, o que Cristo fez, quem Cristo era, o que Cristo requeria deles, o que Cristo oferecia a eles. Ele não pregou: “Vejam, deixe-me contar a vocês sobre a igreja maravilhosa em Jerusalém. Precisamos de uma daquela aqui em Samaria. Vamos, então, eleger alguns diáconos e encarregá-los das viúvas. E, se você vender suas terras e trazer o dinheiro até nós, cuidaremos dos necessitados.”

Não! Filipe pregou a Cristo. Em qualquer cultura, em qualquer idioma – a mensagem é Cristo.

Um século atrás, Spurgeon estava pregando em Londres. Ele disse: “Temos uma grande necessidade, mas temos um grande Cristo.”

Meu amigo, você já percebeu que você tem uma necessidade insaciável? Você pode tentar satisfazer essa fome com coisas e relacionamentos e carreira profissional e bens, mas você sempre será como Isaías disse no capítulo 57, verso 20: “...como o mar agitado, que não se pode aquietar, cujas águas lançam de si lama e lodo.” Você não irá descansar até que encontre o verdadeiro descanso em Cristo.

Continue nos versos 6 e 7 de Atos 8.

As multidões atendiam, unânimes, às coisas que Filipe dizia, ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava. Pois os espíritos imundos de muitos possessos saíam gritando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados.

Doenças e demônios fugiam diante da presença de Filipe, assim como fugiram da presença do próprio Cristo. Em outras palavras, esse homem de Deus autenticava que sua mensagem realmente vinha de Deus ao revelar o poder de Deus.

As credenciais que autenticavam um homem de Deus eram os sinais sobrenaturais. Eventualmente, com o término da escrito do Novo Testamento, as credenciais de um verdadeiros mensageiro de Deus não eram mais as obras milagrosas, mas doutrina bíblica.

Em nossa próxima discussão, veremos um falso líder que estava impressionando o povo de Samaria com grande poder.

Veja o verso 12:

Quando, porém, deram crédito a Filipe,...

(seus sinais e maravilhas? Não!)

...que os evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, iam sendo batizados, assim homens como mulheres.

Samaria era a terra da amargura, mas, mesmo assim, quando o evangelho chegou, lemos no verso 8: E houve grande alegria naquela cidade.

A cidade da amargura se tornou a cidade da bênção.

Aplicação: Três Lições Retiradas dos Crentes do Primeiro Século

Vamos aplicar em nossas vidas três lições a partir da vida desses crentes do primeiro século.

  • A primeira lição é: submeta-se quando Deus prova sua fé.

Os judeus de Jerusalém jamais tinham sonhado com um avivamento na Samaria. Contudo, o evangelho foi para a Samaria porque pessoas estavam dispostas a mudar, se adaptar e arriscar. Eles poderiam ter insistido com os velhos e bons tempos de Jerusalém, mas, ao invés disso, estavam dispostos a se dobrar.

Nesse momento, Deus pode ter colocado você num local desafiador. Talvez você esteja sendo pressionado de todos os lados; perguntas não respondidas; muitos reveses e mudanças. Não se esqueça que o Deus dessa história bíblica é o Deus do seu futuro.

Deus permitiu que a vida dos crentes de Jerusalém fosse despedaçada, radicalmente modificada, virada de cabeça para baixo – para um propósito que só podemos descobrir alguns anos depois. Para eles, significou meses e anos. E existe uma expansão incrível do evangelho porque eles se submeteram a fim de conformarem-se à vontade de Deus.

  • A segunda lição que aprendemos com os crentes do primeiro século é: floresça onde quer que Deus plante seus pés.

Você pode se lembrar da palavra “espalhados,” que vimos nesse texto algumas vezes. É a mesma palavra que Tiago usa no capítulo 1 ao escrever para as tribos de Israel dispersas. É um termo agrícola que se refere à forma como o fazendeiro mete sua mão dentro da sacada de semente, tira um punhado de sementes e as espalha. O vento carrega as sementes para onde soprar. Essa era uma forma de plantar. Contudo, a palavra também pode se referir ao fazendeiro que, de joelhos, pega sua pá, revira o solo, pega um punhado de semente de sua sacada e, cuidadosamente, planta as sementes e cobre com terra.

Deus não nos coloca em lugares com negligência. Deus não foi negligente quando mudou você de lugar. Deus não é descuidado com Seus filhos – Ele cuidadosamente planta cada semente no solo. Esse é o significado dessa palavra nesse texto!

Deveríamos dizer, assim como Estêvão e Filipe e os milhares de judeus crentes que deixaram tudo o que gostavam pelo seu Salvador: “Eis-me aqui, Senhor, pode me enterrar. Escolha, Senhor, o campo, o solo, as condições, os arredores, sou Sua semente! Eis-me aqui, me plante... e que eu traga fruto espiritual para a Sua glória.”

  • A terceira lição é: creia de todo o coração que Deus guarda o seu futuro.

Talvez você diga: “Como eu queria acreditar nisso, mas como? Você não conhece minha situação.”

Sua situação é pior do que a situação desses crentes em Atos 8? Eles guardaram o que puderam em suas bolsas, colocaram nas costas e, com toda pressa, fugiram no meio da noite para um futuro totalmente desconhecido.

Deus trabalhou na vida de Seu povo lá e agora trabalha em nossas vidas, possa você enxergar isso ou não!

Ouça a esse relato da providência de Deus na vida de um crente judeu que, durante a Segunda Guerra Mundial, experimentou a mesma agonia que os judeus em Jerusalém experimentaram durante o reinado de Saulo. Em ambas as ocasiões, famílias foram destruídas.

Marcel Sternberger era um homem metódico perto de seus cinquenta anos de idade, de cabelo grisalho enrolado, de olhos castanhos sinceros e o entusiasmo de um dançarino de sua terra natal, a Hungria. Ele sempre pegava o trem das 9 da manhã de sua casa no subúrbio para Wodside, Nova Iorque, onde pegava um metrô para a grande metrópole.

Na manhã de janeiro de 1948, Marcel subiu no trem às 9:09, como de costume. No trajeto, de repente decidiu visitar Laszlo Victor, um amigo húngaro que vivia no Brooklyn e que estava doente. Dessa forma, Marcel fez seu caminho até a casa de seu amigo Laszlo e ficou até o meio da tarde. Daí, pegou o metrô para o seu trabalho.

Agora, Marcel conta a sua história.

O vagão estava lotado e parecia não haver nenhuma chance de encontrar um assento livre. Mas, logo que entrei, um homem, sentado próximo à porta, pulou de seu assento para desembarcar e eu me sentei em seu lugar. Já estava morando em Nova Iorque tempo suficiente para não iniciar uma conversa com estranhos. Mas, sendo um fotógrafo, tenho um hábito peculiar de analisar o rosto das pessoas e fiquei chocado com o semblante do passageiro à minha esquerda. Ele provavelmente tinha quase uns quarenta anos e, quando ele me deu uma olhada, vi que seus olhos pareciam ter uma expressão de dor. Ele estava lendo um jornal húngaro e algo me fez dizer a ele em húngaro: “Espero que você não se importe de eu dar uma espiada no seu jornal.”

O homem pareceu meio surpreso ao ouvir alguém falando com ele em sua idioma nativo. Ele educadamente respondeu: “Fique à vontade.”

Durante a viagem de trinta minutos, pudemos conversar um pouco. Disse que seu nome era Bela Paskin. Como aluno de direito quando a Segunda Guerra Mundial começou, ele foi colocado num batalhão alemão de trabalho forçado e depois enviado para a Ucrânia. Depois, foi capturado pelos russos e colocado no trabalho de enterrar soldados alemães mortos. Com o final da guerra, ele andou centenas de quilômetros para chegar em sua cidade natal, Debratzin, uma grande cidade no leste da Hungria. Eu conhecia bem essa cidade e conversamos um pouco sobre ela.

Então, ele me contou o resto da história. Quando ele foi para o apartamento onde seu pai, mãe, irmãs e irmãos moravam, encontrou estranhos morando ali ao invés de sua família. Então, ele foi para o apartamento que ele e sua esposa moravam no andar de cima. Também estranhos estavam morando nele. Nenhum deles tinham ouvido falar de sua família. Quando ele estava partindo, cheio de tristeza, um garoto correu atrás dele dizendo: “Tio Paskin, tio Paskin.”

A criança era filho de um dos vizinhos antigos e ele foi para a casa do garoto para conversar com seus pais. “Sua família toda morreu,” disseram a ele, “os nazistas levaram todos, inclusive sua esposa, para Auschwitz.”

Auschwitz foi um dos piores campos de concentração nazista. Paskin perdeu todas as esperanças. Alguns dias depois, muito triste para permanecer na Hungria, de novo partiu a pé, passando fronteira após fronteira, até que conseguiu imigrar para os Estados Unidos em outubro de 1947, apenas três meses antes desse nosso encontro no metrô.

Durante todo o tempo em que falou, fiquei o tempo inteiro pensando nessa jovem mulher que eu tinha conhecido na casa de uns amigos e que também era de Debratzin. Ela tinha sido mandada para Auschwitz; de lá, foi transferida para trabalhar numa fábrica de munições na Alemanha. Sua parentes haviam sido mortos na câmara de gás. Um tempo depois, ela foi libertada pelos americanos e trazida para os Estados Unidos no primeiro navio de refugiados em 1946.

Sua história me tocou tanto que eu tinha escrito seu endereço e telefone, desejando convidá-la para conhecer minha família e, assim, ajudar a aliviar ao terrível vazio em sua vida. Parecia algo impossível haver alguma conexão entre essas duas pessoas, mas, quando estava me aproximando de minha estação, folheei ansiosamente meu livro de endereços. Perguntei com um tom de voz que esperei ser um tom de voz normal: “O nome de sua esposa era Marya?”

Ele ficou pálido. “Sim!” ele respondeu. “Como você sabe?”

Ele parecia que ia desmaiar. Eu disse: “Vamos descer do trem.”

Eu o peguei pelo braço e o conduzi até o orelhão mais perto. Ele ficou em pé como se estivesse em transe enquanto eu ligava para o número dela. Parecia que tinha demorado horas para ela atender. Quando finalmente ouvi sua voz, disse para ela quem eu era e pedi que ela me descrevesse seu marido. Ela pareceu surpresa com meu pedido, mas me deu uma descrição. Então perguntei a ela onde ela tinha morado em Debratzin e ela me disse o endereço. Pedindo para que ela me esperasse rapidamente, me virei para Paskin e disse: “Você e sua esposa moraram no endereço tal?”

“Sim!”, ele exclamou.

Ele estava trêmulo. “Fique calmo,” disse para ele. “Algo milagroso está prestes a acontecer com você. Aqui, pegue o telefone e converse com sua esposa!”

Vendo que ele estava tão tomado pelo momento que nem conseguia falar com coerência, peguei o telefone de suas mãos. “Fique onde você está”, disse à Marya, “Estou mandando seu marido para você.”

De início, pensei que seria melhor se eu o acompanhasse para que ele não caísse desmaiado de alegria, mas decidi que esse era o tipo de momento que estranhos não deveriam se intrometer. Coloquei Paskin num táxi e disse ao motorista para levá-lo ao endereço de Marya, paguei o necessário e disse adeus.

O reencontro de Bela Paskin com sua família foi um momento tão comovente, tão cheio de energia que, depois, nem ele nem Marya conseguiu se lembrar dos detalhes. Marya me disse: “Lembro-me que, quando desliguei o telefone, corri para o espelho como num sonho para ver se meu cabelo estava agora branco. A próxima coisa de que lembro é um táxi parando na frente de casa e o meu marido vindo para mim. Dos detalhes não me recordo; só sei disto – que eu estava feliz depois de muitos anos... Até agora é difícil de acreditar que isso realmente aconteceu. Nós dois sofremos muito.”

“Mas”, Bela Paskin adiciona, “Deus nos reuniu.”

Não importa o que a vida reserva para você em determinado momento; não importa qual seja o consenso da opinião popular a respeito do Senhor que conhecemos como Salvador, uma coisa é certa – o grafite na parede não é a última palavra; Deus tem a última palavra. Você vai crer Nele, segui-lO, confiar Nele para o seu ontem, hoje e amanhã?

 

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 26/01/1997

© Copyright 1997 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

 

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