Estêvão: Graça Sob Fogo

Estêvão: Graça Sob Fogo

by Stephen Davey

Estêvão: Graça Sob Fogo

Atos 6.8–15

 

Introdução

Em nosso último estudo no sexto capítulo de Atos, descobrimos vários princípios eternos da igreja neotestamentária. Vimos a igreja lutando com o senso de injustiça que se desenvolveu no cuidado das viúvas. Nessa nossa observação, descobrimos que não existe igreja perfeita. Mesmo igrejas vibrantes, eficazes e em crescimento não estão imunes às questões problemáticas e facciosas. Vimos como a igreja murmurou e reclamou sobre uma aparente falta de justiça, uma vez que as viúvas dos helenistas estavam sendo esquecidas, enquanto que as hebreias estavam recebendo os devidos cuidados.

No processo de resolver essa questão, descobrimos que, de fato, não existe lugar para preconceito nenhum dentro da igreja. Quer seja o preconceito social, ou racial, educacional, financeiro, o que quer que seja, é pecado ter uma atitude esnobe. Como um autor disse: “O chão ao pé da cruz é plano.”

Uma outra lição que aprendemos com a maneira como a igreja lidou com essa questão facciosa e potencialmente explosiva é que liderança na igreja não é baseada na experiência, mas no caráter. Esse princípio nos apresentou a um homem que cativará nossa atenção em nossos próximos estudos. Ele vai ocupar o lugar central no palco na história da igreja primitiva e ficará conhecido como o homem que pregou apenas uma mensagem e apenas uma vez.

Princípios para Estudo
de Personagens Bíblicos

Em Atos 6, descobrimos o nome desse homens identificado juntamente com os outros seis. O verso 5 nos diz que seu nome era “Stephanos” ou “Estêvão.”

A palavra grega “stephanos” significa “coroa.” Um dos meus léxicos gregos relaciona “stephanos” com a “coroa da realeza ou de alguém com posição exaltada.” Também pode ter sido usada para se referir ao diadema colocado na cabeça do atleta vitorioso quando ele subia ao Bema para se encontrar com os juízes do campeonato. Outro léxico adiciona que “stephanos” pode ter sido algo que era dado a alguém na comunidade por causa de algum serviço notável.

Que ironia vermos Estêvão vivendo de acordo com o seu nome. Ele se tornará um notável servo da igreja, como também literalmente receberá a coroa do martírio. Ele será o primeiro mártir da igreja do Novo Testamento.

As lentes das Escrituras agora focalizam esse homem, Estêvão. Ele será nossa atenção pelos próximos sessenta e oito versos. Gostaria de investir alguns estudos falando da breve vida desse homem e do ainda mais breve ministério dele. Veremos que tipo de homem Estêvão era.

Duas Tendências

No início de nosso estudo biográfico, quero fornecer a você alguns pontos a considerar. Ao estudarmos a vida de Estêvão, podemos concluir que ele era um crente raro que tinha tudo resolvido com Deus; que era um personagem incrível com ajuda extra do Senhor; que começou melhor, talvez. Podemos pensar que Estêvão tinha privilégios especiais do Senhor ou que Deus o fez um pouco melhor que nós. Esse tipo de pensamento pode resultar em uma das duas tendências erradas.

  • A primeira tendência errada ao considerarmos um personagem bíblico, é a da complacência. Ou seja, que Estêvão pertencia a uma classe especial de crentes de maneira que Deus não espera que vivamos como ele.

Essa disposição à complacência não é a verdade. A Bíblia, bem como todos os seus personagens, foram dados não para que os coloquemos num pedestal, mas para imitá-los. Até mesmo o apóstolo Paulo exortou a igreja de Corinto com palavras bem interessantes, como registrado em 1 Coríntios 11, verso 1a: Sede meus imitadores.

  • A segunda tendência que desanima o crente em sua caminhada espiritual é a do desencorajamento.

Estêvão era um crente tão especial que podemos erroneamente concluirmos que ele tinha benefícios e privilégios especiais a ponto de nos impossibilitar de termos o seu estilo de vida. Não se esqueça que Estêvão está, no fundo, imitando a Jesus Cristo, o qual deseja que sejamos mais e mais parecidos com Ele.

Piedade não é um privilégio de um grupo selecionado de crentes, mas de crentes submissos. Não é uma questão de privilégios ou posição especiais; não é dada a uma classe especial de crentes com um determinado estilo de vida; não é um tipo de posição especial diante de Deus. Piedade está intimamente ligado com submissão especial ao Senhor. Eu e você podemos desfrutar das consequências da piedade e, como Estêvão evidentemente fez, buscarmos o caráter piedoso.

Dois Cuidados

Deixe-me fornecer dois cuidados  ao estudarmos personagens bíblicos.

  • Primeiro, quando imitar personagens bíblicos, não espere perfeição deles ou de si mesmo, mas, ao invés disso, procure o progresso.

Um dos meus professores prediletos costumava dizer: “Deus não está necessariamente em busca de crentes perfeitos, Ele está em busca de crentes em progresso.”

  • Segundo, ao estudar personagens bíblicos, não tente imitar o desempenho deles, mas, ao invés, imite a atitude deles.

Não conseguimos repetir desempenhos em culturas, épocas e dispensações diferentes, mas podemos imitar a atitude deles. Não seremos carregados para o Sinédrio, como Estêvão será carregado nos versos mais à frente, para darmos testemunho da divindade de Jesus Cristo. Provavelmente, não ficaremos diante de multidões. E, provavelmente não seremos arrastados para fora dos muros da cidade e apedrejados até a morte. Entretanto, podemos aprender com ele como reagir  quando passarmos por situações de alta pressão. Podemos imitar o seu autocontrole e estabilidade emocional. Podemos aprender a agir como Cristo.

O Caráter de Estêvão

Com isso em mente, surge a pergunta: “O que podemos aprender e imitar na vida de um homem que Deus colocou nas Escrituras, não porque Deus precisasse encher Seu livro de Atos, mas porque Ele desejava nos ensinar algumas coisas?”

Vamos descobrir o que podemos aprender com esse homem chamado Estêvão. Abra sua Bíblia em Atos 6.

Vamos começar nosso estudo lendo o verso 3, onde vemos que Estêvão era um homem de: boa reputação.

Agora, reputação é aquilo que as pessoas dizem sobre você. Caráter, por outro lado, é o que Deus diz sobre você. Os dois podem ser totalmente diferentes. O interessante é que Estêvão tinha boa reputação tanto dos de dentro da igreja, como dos de fora da igreja também.

Acho que seria interessante exigir entrevistas com colegas de trabalho e patrões no meio secular a respeito de possíveis líderes da igreja. Podemos perguntar: “E aí, como é fulano fora do ambiente santo da igreja? Diga-me como ele é de segunda a sábado para nos ajudar a determinar se ele ou ela pode se envolver nessa posição em nossa igreja.”

Esse era, evidentemente, parte dos requerimentos dos homens que foram escolhidas para a liderança no tempo de Estêvão. De acordo com Atos 6, o apóstolo disse: “Queremos ter certeza que iremos escolher homens de boa reputação.

Em outras palavras: “Escolham homens com bons nomes.”

Salomão escreveu em Provérbios 22, verso 1a: Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas.

Eles deveriam encontrar indivíduos conhecidos por sua pureza e integridade na comunidade. Então, eles procuraram tais homens e chegaram com uma lista que incluía o nome de Estêvão.

A passagem continua e repete a mesma frase sobre Estêvão cinco vezes. Quando você vir uma frase ou palavras sendo repetidas várias vezes no Novo Testamento, não é porque Deus está gaguejando, mas porque Ele deseja nos chamar a atenção a alguma coisa. Portanto, pegue um lápis e sublinhe as cinco expressões sobre Estêvão. Lemos que Estêvão era:

  • No verso 3: cheio do Espírito e de.

 

  • Segundo, cheio de sabedoria.

 

  • No verso 5: homem cheio de fé.

 

  • De novo, cheio do Espírito Santo.

 

  • No verso 8: cheio de graça.

 

  • Também, cheio de poder.

Agora, em cada uma dessas referências, a palavra “cheio” é a palavra “pleres” que também pode ser traduzida como “dominado por ou controlado por.” A tradução de “cheio” denota um sentido diferente daquilo que estamos acostumados. Vou usar a ilustração de um tanque de gasolina para explicar melhor. Nós não somos tanques de gasolina que precisamos ser enchidos e, depois, quando o nível baixa, precisamos ser novamente enchidos com o Espírito Santo. A palavra significa “dominado por ou controlado por.”

Então, a Bíblia nos informa que Estêvão era controlado ou dominado por cinco coisas diferentes. Vamos dar uma olhada mais próxima.

  • Primeiro, versos 3 e 5 nos informam que Estêvão era cheio do Espírito Santo. Em outras palavras, Estêvão era controlado ou dominado pelo Espírito Santo.

Já estudamos o significado de sermos dominados pelo Espírito Santo, então não vou repetir. Contudo, o que chamou minha atenção é que foi necessário um homem controlado pelo Espírito Santo para que não ficasse nem cheio de si e nem enamorado consigo mesmo por causa das coisas que tinham acontecido com ele nos últimos meses; na verdade, menos de um ano.

Se pararmos para pensar, o Espírito de Deus havia descido poucos meses antes na ocasião do Pentecostes e Pedro pregou seu primeiro sermão da primeira igreja do Novo Testamento. Evidentemente, Estêvão estava dentre os homens que tinham recebido a Jesus como Salvador; que haviam convidado o Senhor para dentro de sua vida. Pouco tempo depois, esse corpo de crentes, com o qual ele estava envolvido, explodiu para mais  de vinte mil pessoas. A Bíblia nos diz que havia mais de cinco mil homens alistados no rol de membros. Uma explosão estava ocorrendo e, então, a Bíblia nos diz no verso 3 que, dentre os milhares de homens convertidos, os apóstolos disseram: escolhei... sete homens.

Desses sete homens, o primeiro a ser mencionado é Estêvão. A igreja confirmou que ele era cheio do Espírito e de sabedoria e que ele, de fato, tinha uma boa reputação de integridade na comunidade e dentro também da comunidade cristã.

Num momento, veremos Estêvão fazendo, conforme o verso 8 nos diz: prodígios e grandes sinais.

Estêvão recebe a posição singular, juntamente  com os apóstolos, de confirmar a origem divina do evangelho por meio de sinais miraculosos.

Esse era um homem que viu tudo isso acontecer em sua vida em menos de um ano. Era necessário um homem dominado pelo Espírito Santo para não ficar cheio de si ou admirado consigo mesmo por causa dessas coisas.

  • Segundo, vemos no verso 3 que Estêvão era controlado ou dominado por sabedoria.

Agora, só aqui, poderíamos desenvolver várias mensagens. É o estudo acerca da pergunta: “O que é sabedoria?”

Gosto da resposta dada por uma pessoa. Ele disse: “Sabedoria é aquela inteligência que o previne de entrar em situações que exigem sabedoria.” Muito bom!

Gosto do exemplo de sabedoria dado por um senhor que, com sua esposa, tinham acabado de celebrar cinquenta anos de casados. Alguém perguntou a ele: “A quem você atribui essa felicidade conjugal?”

Ele respondeu: “Bom, quando eu e minha esposa nos casamos, tínhamos um acordo mais ou menos assim. Quando ela estava chateada comigo, ela me diria tudo, simplesmente para tirar tudo da cabeça dela, dizia tudo. E quando eu estava chateado com ela, simplesmente iria caminhar. Creio que podemos atribuir a felicidade em nosso casamento ao fato de eu ter vivido a maior parte de minha vida fora de casa!”

Isso é sabedoria!

Agora, entenda que, quando abrimos a Bíblia para vermos a definição de “sabedoria”, veremos que a palavra nunca se refere ao quanto uma pessoa sabe. Sabedoria é sempre utilizada para se referir ao quanto uma pessoa prontamente obedece. Sabedoria não é o que você sabe ou aprendeu, mas como você vive e o que isso diz sobre o que você aprendeu.

Segundo a Bíblia, dizer que você sabe alguma coisa mas não a pratica, é a mesma coisa de não saber de nada. Uma pessoa sábia é aquela que obedece a verdade a despeito da pressão externa. Você está vivendo de uma forma que o mundo inteiro se vira para você e diz: “Na verdade, você deveria estar vivendo desse outro jeito aqui.” Talvez você diga: “Está certo,” enquanto todas as demais pessoas dizem: “Está errado; aquilo é que está certo.” Você é a pessoa sábia quando é guiada pelo domínio da sabedoria piedosa por meio dos labirintos da pressão e opinião a fim de chegar àquilo que Deus considera ser a verdade.

Achei em minha enciclopédia algo interessante que você talvez não saiba sobre Galileu.

Por muitos séculos, as pessoas achavam que Aristóteles estava certo ao declarar que, quanto mais pesado um objeto, mais rápido sua queda na terra. Aristóteles era considerado o grande pensador de todos os tempos e ninguém pensava que ele poderia estar errado. Tudo o que era necessário era uma pessoa corajosa pegar dois objetos, um mais pesado que o outro, e deixá-los cair de uma grande altura para ver se, de fato, o objeto mais pesado chegaria ao chão primeiro. Aproximadamente dois mil anos após a morte de Aristóteles, contudo, ninguém ainda havia tomado esse passo.

Em 1589, Galileu, então professor de matemática na Universidade de Pisa, convocou professores instruídos para a base da Torre de Pisa. Ele foi ao topo e lançou um peso de uns cinco quilos e um de 500 gramas, ambos ao mesmo tempo. E ambos atingiram o chão no mesmo momento. Contudo, o poder da sabedoria convencional era tão forte que aqueles professores negaram o que tinham visto com seus próprios olhos. Eles continuaram dizendo que Aristóteles estava certo. No ano seguinte, o contrato de Galileu com aquela universidade não foi renovado.

Galileu também preferia a teoria de Copérnico de que a terra se revolvia em torno do sol e não a teoria de Aristóteles, a de que os planetas giram em torno da terra fixa. Em 1609, ele construiu um telescópio com a capacidade de aumentar objeto vinte vezes o seu tamanho e conseguiu descobrir as montanhas e crateras na lua. Ele também viu que a Via Láctea era composta por estrelas. E ele publicou seus achados em 1610. Sua fama lhe rendeu a posição de matemático da corte em Florência. Como resultado, ele teve tempo e recursos para pesquisar e escrever.

Em 1613, Galileu publicou uma obra e predisse a vitória da teoria de Copérnico sobre a teoria de Aristóteles. Seus problemas, então, recomeçaram. Em 1614, um sacerdote acusou Galileu de púlpito. Daí, um cardeal jesuíta aconselhou Galileu dizendo que ele não deveria mais sustentar a teoria de que a terra se revolve. Por dez anos, Galileu permaneceria em silêncio a respeito do assunto.

Em 1624, Galileu deu início a um livro sobre as marés. Foi, então, convocado a Roma pela Inquisição a ser julgado por, “grave suspeita e heresia.” Galileu foi condenado e sentenciado á prisão pelo resto de sua vida, o que também era combinado com um período de prisão em seu lar. A sentença deveria ser lida publicamente em todas as universidades e suas obras deveriam ser queimadas.

Galileu escreveu outro livro, intitulado Discursos a Respeito das Novas Ciências, que posteriormente seria publicado. Esse livro abriria a porta para que, anos depois, Newton chegasse à tão famosa Lei da Gravitação Universal. Galileu morreu antes que seu livro fosse publicado. Morreu perto de Florência em 8 de janeiro de 1642, antes que o mundo descobrisse que suas ideias não eram heresias, mas a verdade. Em outubro de 1992, a comissão papal reconheceu o erro do Vaticano.

Você consegue imaginar ir contra a religião organizada de seus dias; a religião oficial de seu país; a opinião popular de todos os cientistas que trabalham em volta de você? Bom, entenda nessa passagem que Estêvão, cheio da sabedoria da Palavra de Deus, que, muitas vezes, é bem diferente da sabedoria do mundo, está prestes a ir contra o sistema de seus dias.

E ele se dirige contra o judaísmo. Na verdade, ele irá dizer que o judaísmo precisa ser deixado de lado por causa de algo novo chamado “cristianismo.” E Ele diz que o cristianismo segue uma pessoa, não um ritual; e essa pessoa é Aquela que os judeus mataram, Jesus Cristo. Isso sim é ir contra a maré; isso é ir contra a corrente da opinião pública e do pensamento contemporâneo. E Estêvão, dominado pela sabedoria, continuaria em seu discurso com sua convicção de que Cristo era a verdade.

  • Terceiro, vemos no verso 5 que Estêvão era um homem cheio de fé.

Agora, na margem da sua Bíblia, você poderia escrever “convicção”, uma vez que a expressão “cheio de fé” pode ser traduzida dessa maneira. Também poderia ser traduzida como “fidelidade.”

Fidelidade é estar cheio de convicção da verdade sobre Jesus Cristo. E, a propósito, convicção é necessária para viver uma vida de sabedoria, uma vez que a verdade bíblia não é fácil de ser vivida. Será necessário convicção para você conseguir dizer ao mundo: “Vocês estão errados, este livro é que está certo.”

Quais são alguma ideia populares hoje que são aceitáveis? É a opinião de que o aborto é correto, que um bebê ainda não nascido não é uma criança. É a opinião de que divorciar é aceitável. Na Bíblia, entretanto, existe uma mensagem diferente. Você precisará de convicção para ir contra certas coisas que o mundo diz estarem certas, mas que a Palavra de Deus condena claramente.

Acho interessante que, no quarto século, um líder da igreja, chamado Atanásio, foi exilado cinco vezes por causa de sua pregação. Numa ocasião, o imperador romano exilou Atanásio porque achou o ensino dele meio sem gosto. E ele estava prestes a embarcar em sua jornada sobre o mar quando sua congregação veio até as docas para dizer “até logo” e estavam em prantos. Atanásio se virou para eles e disse: “Não chorem por mim, mas pelo imperador, porque ele não é mais que uma nuvem passageira.”

Imagine ter essa coragem!

Em um de seus aprisionamentos, pessoas vieram até ele e disseram: “Atanásio, todos estão seguindo o Arianismo.”

Arianismo era basicamente a crença de que Jesus não era totalmente Deus. Seria esse homem, Atanásio, à essa altura da história, que defenderia a divindade de Jesus Cristo.

Atanásio também foi o primeiro homem a defender por escrito a inspiração dos vinte e sete livros do Novo Testamento. As diferentes maneiras como Deus o utilizou são bem interessantes.

Numa outra ocasião, pessoas vieram até ele na prisão e disseram: “Atanásio, não vale a pena. Desista e viva sua vida.”

Atanásio respondeu: “Não posso.”

E um de seus seguidores disse: “Mas Atanásio, o mundo inteiro está contra você.”

Foi quando Atanásio proferiu as seguintes palavras imortais: “Então Atanásio está contra o mundo inteiro.”

Esse tipo de coragem é rara hoje, não é?

Um tempo atrás, eu estava ouvindo uma rádio, um garoto estava sendo entrevistada num programa de família. Ele foi questionado a respeito de um movimento que ele começou em sua escola e que estava se espalhando. Durante a conversa, o entrevistador disse: “Você é apenas um adolescente e está envolvido com algo e numa posição que todos concordamos haver forte pressão. Como você lida com toda essa pressão em sua escola?

Nunca me esquecerei da resposta que ouvi da boca daquele adolescente. Ele disse: “Meu amigo, você precisa entender, na minha escola, eu sou a pressão pesada.”

Não é interessante isso?! No seu local de trabalho, você ser a pressão forte. Na sua escola, você é a pressão. Na loja, você é a pressão.

Recentemente, estava conversando com um senhor de nossa igreja. Ele disse: “Eles me mandaram para outro setor em minha empresa. É interessante como, no decorrer de poucos dias, o tipo de linguagem mudou e desculpas começaram a ser dadas. E, quando eu chego, algumas piadas param. Imagino que eles já me viram lendo o Novo Testamento em meus intervalos. Agora, eles vêm até mim e fazem certas perguntas.”

Eu digo: “Aleluia!” Isso é sabedoria; aprendendo das Escrituras e tendo a convicção de viver a Bíblia no dia-a-dia. E que essa tribo cresça.

Estêvão estava cheio de convicção  e custaria a sua vida. Convicção não torna a vida mais fácil. Creio que nosso problema é que achamos que, se tivermos convicção, Deus facilitará as coisas, amaciará tudo. Talvez esse não seja o caso.

  • Quarto, no verso 8 vemos outro ingrediente na vida de Estêvão que vejo ser algo raro, ele era cheio de graça.

Graça nesse texto é mais uma descrição característica pessoal de Estêvão do que uma descrição teológica da graça de Deus que trabalhava em sua vida. Ele era dominado por essa característica de “charis” ou “gentileza, encanto, graça.”

As pessoas diziam: “Estêvão é um homem gracioso,” o que me surpreende. Na verdade, F. F. Bruce alega que, se a Bíblia fosse traduzida em nosso idioma vernacular, a palavra “graça” poderia ser tranquilamente traduzida como “charmoso.”

O motivo por que disse que isso me surpreende é porque acabamos de falar que Estêvão era um homem cheio de convicção e fé. Com Estêvão, era “eu contra o mundo.” E esse não é o tipo de cara que você imagina ter diversão em sua vida. Você não imagina Atanásio se rachando de rir no chão, não é? Esperamos que as pessoas profundamente comprometidas, profundamente convictas das verdades bíblicas sejam um pouco diferentes. Nós não os imaginamos dando gargalhadas, pelo menos não em público. No máximo um sorriso de Mona Lisa, dizendo: “Engraçado, mas sou espiritual.”

O pensamento de que, “quanto mais espiritual você é, menos risada você dá”, é um conceito errado de nossos dias. Então, achei interessante  que esse homem, profundamente movido por suas convicções a ponto de dizer coisas espantosas para a sua época, pode ser caracterizado como alguém, “charmoso, alguém que sorri bastante, gracioso.”

Numa ocasião, o teólogo John Walvoord foi pregar em nossa igreja. Ele era o chanceler do Seminário Teológico de Dallas, quando eu estudei lá. Ele liderou a instituição por uns sessenta anos. Sua visita à nossa igreja foi a primeira oportunidade que tive de ficar próximo dele. Antes disso, o tinha visto apenas numa sala de aula que ficava em frente a minha. Você não chega para esse tipo de gente e começa a falar do clima e tal... nós não mexemos com eles. Mas algo que realmente me surpreendeu nele foi que, quando ele veio à minha casa, ele riu muito, contou muita piada. Na verdade, até me chocava algumas vezes. O Dr. Walvoord contando piada! E eu ri também!

Tivemos um artista evangélico em nossa igreja uma vez. Antes de cantar, ele pediu para ir ao meu escritório. Pensei: “Ótimo, ele quer ter um tempo sozinho para orar. Bom.” E esperava aquilo.

Mais tarde quando fui buscá-lo, vi meu escritório todo enrolado com papel higiênico. Tudo – minha poltrona, o abajur, as cortinas e todas as prateleiras. Pensei que ele estivesse orando! Quase cortei a oferta dele pela metade! Mas pensei que aquela foi uma boa lição aprendida.

Lembro-me de quando ainda estava na faculdade, eu limpava o chão de uma floricultura por algumas horas na noite para ganhar um dinheiro para as mensalidades. Quando estava lá, ligava a rádio em busca de algo a ouvir enquanto trabalhava. Encontrei uma estação em que um homem pregava de maneira que me fascinava. Daí, toda noite regulava o rádio para ouvi-lo. Algo que me surpreendeu foi que ele ria no púlpito. Posteriormente, descobri que sue nome era Charles Swindoll.

Creio que precisamos apagar de nossas mentes a ideia de que, quanto mais próximo de Deus estamos, mais melancólicos nos parecemos. Esse não era ao caso desse homem, Estêvão, que devemos imitar. Estêvão era cheio de coragem; cheio do Espírito Santo; cheio de convicção; cheio de fé. E, contudo, as pessoas gostavam de estar perto dele por causa da forma como ele ria e conversava.

  • Quinto, o verso 8 nos diz que Estêvão era cheio de poder.

A palavra “poder” é “dynamis,” ou “dinâmica.” Estêvão era cheio de dinâmica e o verso 8 nos diz que ele: fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.

É interessante que ele tenha recebido esse poder apostólico especial para confirmar sua mensagem com sinais e maravilhas. Antes do término da escrita da Palavra de Deus, sabemos que a comunidade apostólica podia confirmar o que diziam por meio dos sinais e milagres. E Estêvão, evidentemente, podia fazer o mesmo.

A Coragem de Estêvão

Como resultado de seu poder, Estêvão iria se tornar o próximo alvo do Sinédrio. Eles tinham se concentrado em Pedro e João; estavam tendo problemas com a igreja, mas, agora, esse novo homem, “Qual o nome dele? Nunca ouvimos falar dele. Quem é ele?”

“Bom, seu nome é Estêvão.”

E o Sinédrio iria atrás dele. Veja o verso 9.

Levantaram-se, porém, alguns dos que eram da sinagoga chamada dos Libertos, dos cireneus, dos alexandrinos e dos da Cilícia e Ásia, e discutiam com Estêvão;

A essa altura, havia cerca de quatrocentas e oitenta sinagogas em Jerusalém. Obviamente, essa sinagoga dos Libertos era composta de filhos de escravos judeus libertos. Uma vez que tinha também judeus gregos, Estêvão, sendo um judeu grego, encontrou seu caminho dentro dessa sinagoga. E lá, ele estava declarando a verdade de Cristo, o que deu início a uma discussão.

Havia na sinagoga homens de outras regiões também. Uns eram da Cilícia e outros da Ásia. É interessante considerarmos que um dos homens da Cilícia, que futuramente irá perseguir a igreja, está provavelmente debatendo com Estêvão nesse dia. Seu nome era Saulo.

Continue até o verso 10.

E não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito, pelo qual ele falava.

O julgamento de Estêvão

Bom, se você não pode vencer publicamente, tente algo injusto em particular. Os versos 11 a 14 nos dizem o que esses homens fizeram.

Então, subornaram homens que dissessem: Temos ouvido este homem proferir blasfêmias contra Moisés e contra Deus. Sublevaram o povo, os anciãos e os escribas e, investindo, o arrebataram, levando-o ao Sinédrio. Apresentaram testemunhas falsas, que depuseram: Este homem não cessa de falar contra o lugar santo e contra a lei; porque o temos ouvido dizer que esse Jesus, o Nazareno, destruirá este lugar e mudará os costumes que Moisés nos deu.

Esses homens estão dizendo que existem dois problemas. Primeiro, estão basicamente dizendo que Estêvão está ensinando algo diferente do judaísmo, a tradição mosaica. Esse é o problema teológico. Depois, eles jogam no meio um problema emocional altamente explosivo. Eles dizem: “ele vai alterar nossos costumes. Ele vai mudar o nosso modo de viver.”

Eles não gostavam de mudanças, assim como nós não gostamos hoje. Eles tiveram uma explosão com esse argumento.

Continue até o verso 15.

Todos os que estavam assentados no Sinédrio, fitando os olhos em Estêvão, viram o seu rosto como se fosse rosto de anjo.

Isso é graça sob fogo e isso me impressionou. Veja novamente o verso 12a, que diz: Sublevaram o povo, os anciãos e os escribas e, investindo, o arrebataram.

O verbo grego nesse verso significa que eles “vieram de repente e com violência.” Estêvão está no meio de um debate onde ele, com grande sabedoria e compostura, declara a verdade; de repente, eles abrem as portas da sinagoga e o arrastam de lá. Antes que ele perceba, já está diante do Sinédrio. Isso é, sem dúvidas, o momento de maior pressão em sua vida; a maior provação pela qual já passou. E terminará com o veredito: “Culpado! Executem-no!”

Será que ele era casado ou solteiro? Será que tinha filhos? Não sabemos, mas ele não recebe nenhum minuto para dizer “Adeus.”

Ele foi arrancado da sinagoga, julgado e, em questão de minutos, apedrejado à morte. Sem dúvidas, ele sabia que estava em apuros, uma vez que Pedro e João já tinham passado por aquilo antes dele. E, por último, receberia um golpe severo, mas viram o seu rosto como se fosse rosto de anjo.

A propósito, Deus fez algo singular para ele. Não podemos repetir seu desempenho, mas é importante entendermos o que está acontecendo. Estêvão estava controlado pelo Espírito Santo e Deus fez com o rosto de Estêvão a mesma coisa que fez com o rosto de Moisés. Estêvão é acusado de blasfêmia contra Moisés, mas ele se torna como Moisés. Era um outro sinal de que ele estava dizendo a verdade de Deus, mas, mesmo assim, eles não ouviram.

Abra sua Bíblia para o capítulo 7. Enquanto a gangue apedreja Estêvão, vemos Estêvão servindo de modelo de graça sob fogo; servindo de modelo da graça do próprio Cristo.

Veja o verso 59: E apedrejavam Estêvão, que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito!

Onde ele viu isso? Do próprio Senhor. Continue até o verso 60: Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado!

Onde ele aprendeu isso?

Com estas palavras, adormeceu.

Ele adormeceu sem ter tido tempo para dar “Adeus” para ninguém; sem tempo para ajustar as coisas; sem tempo para, como muitos dizem, preparar o seu coração. Entretanto, descobrimos que, naquele momento, ele estava pronto. Por que? Porque, em sua vida, ele tinha sido dominado pelo, controlado pelo, submisso ao Espírito Santo. Isso produziu nele aquilo que devemos buscar – convicção, sabedoria, poder e graça. Que assim seja.

 

 

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 12/01/1997

© Copyright 1997 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

 

 

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