
A Confusão do Sinédrio
A Confusão do Sinédrio
Atos 5.14–42
Introdução
Se os líderes da nação de Israel fossem definir o estado dos negócios durante o capítulo 4, eles definiram com a palavra “confusão.” Da perspectiva deles, no decorrer das vinte e quatro horas que se seguirão, as coisas iriam de mal a pior. Os apóstolos simplesmente não iam embora e agora ainda havia mais e mais pessoas, incluindo sacerdotes, deixando o judaísmo e recebendo a Jesus Cristo como Senhor ressurreto.
A Confusão do Sinédrio
Veja os versos 14 a 16 de Atos 5.
E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor, a ponto de levarem os enfermos até pelas ruas e os colocarem sobre leitos e macas...
(a palavra “leitos” se refere a um sofá ou cama que era parte de um móvel de pessoas ricas. A palavra “macas” se refere ao colchão de palha comum dos pobres – dessa forma, Lucas faz alusão ao fato de ambos ricos e pobres esperarem ser curados pelos apóstolos)
...para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra se projetasse nalguns deles. Afluía também muita gente das cidades vizinhas a Jerusalém, levando doentes e atormentados de espíritos imundos, e todos eram curados.
Isso nos fornece uma imagem do que já estudamos anteriormente, o poder magnificente, mas temporário, que Deus deu aos Seus apóstolos à medida que Ele estabelecia um novo tempo. Todas as eras que Deus estabeleceu começando em Gênesis foram eras de milagre que validavam a mensagem dos servos que falavam em nome de Deus.
Nem conseguimos imaginar esse cenário. Não havia mais orações; ninguém está reunindo sua fé ao extremo. E a Bíblia nos diz que todos foram curados; não houve nenhuma falha. Nem nos é dito se algum dentre os que foram curados creu em Jesus Cristo. Eles simplesmente levavam seus leitos e macas para fora e Deus validava a mensagem da igreja como verdadeira. O que vemos no texto é que Pedro andava e sua sombra curava os enfermos.
A inveja do Sinédrio
Agora, alguma coisa tem que acontecer nesse momento. Veja o que o verso 17 diz.
Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de (...preocupação com a verdade... indignação justa... amor pelos israelitas? Não! Eles tomaram-se de...) inveja.
Não ignore o motivo por trás de tudo o que esses líderes faziam. Os guardiões da Lei preocupavam-se tanto em guardar seus empregos que ignoraram o cumprimento da lei através de Cristo.
Essa não foi a primeira vez e nem será a última que a cabeça deles ficaram cheias de inveja.
Mateus 27, verso 18, nos informa que, quando os líderes religiosos gritavam para que Barrabás fosse libertado no lugar de Jesus, o motivo era claro: Porque sabia [Pilatos] que, por inveja, o tinham entregado.
Em Atos 7, verso 9a, Estêvão se coloca diante do Sinédrio e revela que: Os patriarcas, invejosos de José, venderam-no para o Egito.
Fica claro que o Sinédrio entregou o Redentor por causa de inveja.
Em Atos 13, versos 44 e 45, é-nos dito:
No sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus. Mas os judeus, vendo as multidões, tomaram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava.
Atos 17, versos 4 e 5, nos diz que:
Alguns deles foram persuadidos e unidos a Paulo e Silas, bem como numerosa multidão de gregos piedosos e muitas distintas mulheres. Os judeus, porém, movidos de inveja, trazendo consigo alguns homens maus dentre a malandragem, ajuntando a turba, alvoroçaram a cidade...
Não é incrível um negócio desses? A emoção humana que entregou Jesus, apedrejou Estêvão e perseguiu Paulo e Silas não era nada mais que inveja grosseira. O único pensamento deles era: “Eles estão roubando poder e atenção nossa. Vamos nos livrar deles!”
Não é ótimo sabermos que na igreja não existe inveja? Não é ótimo o fato de a igreja não ser um lugar de competição, inveja, mas um local onde todos automaticamente servem uns aos outros e consideram os outros superiores a si mesmos? Ah não, longe disso!
Paulo teve que corrigir severamente a igreja de Corinto que era dividida por causa da inveja. Abra sua Bíblia em Tiago 3, onde somos advertidos a respeito do mesmo problema demonstrado pelo Sinédrio, pois pode ser o nosso problema também. Veja o verso 13a. Tiago escreve essas palavras interessantes aos crentes que estavam espalhados: Quem entre vós é sábio e inteligente?
Em outras palavras, quem, na congregação, se considera ser uma pessoa sábia e com entendimento? Bem, qual é o teste? Continue no verso 13 até o 14.
...Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras. Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade.
Ou seja, “Não dê outro nome a isso. Não minta acerca da verdade do fato de que isso é simplesmente ambição, competição e inveja.”
A verdade é, o problema é ambição egoísta e inveja, conforme Tiago diz no verso 15: Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca.
Na verdade, se você conseguir voltar à cena do Jardim do Éden, onde o inimigo dessa igreja futura, conforme lemos em Gênesis 3, sopra no ouvido da mulher: “Sabe, Deus tem algo que você não tem. Isso não incomoda você?”
Continue até o verso 16.
Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins.
Isso não foi escrito para a Câmara dos Deputados ou para o Senado, foi escrito para a igreja. Pule até o capítulo 4, versos 1 a 4a.
De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus?...
Para quem Tiago escreve nesses versos? Descrente pagãos? Não! Ele escreve para crentes! Ele diz que crentes, que deveriam ser fiéis a Deus, têm inveja e cobiça no corpo e em suas vidas. Eles querem as coisas que outros têm; eles querem a posição e o poder que outros têm e buscam essas coisas para si. Tiago diz: “Dessa forma, vocês criam desordem e toda malignidade dentro da igreja.”
Tiago continue no verso 4, dizendo: Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
Então, agimos como adúlteros. Deveríamos ser fiéis a Deus, mas buscamos outras coisas para o nosso próprio prazer e nos tornamos adúlteros; isto é, contra Deus, infiéis.
Continue até o verso 5:
Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?
É interessante que Tiago usa a palavra “ciúme” para Deus. Tiago diz, enquanto invejosamente buscamos as coisas para satisfazermos nossos prazeres, Deus tem ciúme de nós para que sejamos dominados pelo Espírito.
Então, a questão é: “Do que você tem inveja? Você tem inveja das coisas que outros têm e que você não tem – poder, posição, reputação, popularidade, coisas, bens – ou temos inveja de ter o Espírito de Deus dominando nossas vidas?”
O Sinédrio está no processo de autodestruição. O general romano Tito iria, dali a poucos anos, esmagar Jerusalém. No ano 70 AD, Israel será julgada por Deus e Tito lançará Jerusalém no esquecimento.
Estou dizendo isso para traçar um paralelo: porque o que pode acontecer com os sinédrios, pode ocorrer também com os santos. De acordo com Tiago, podemos perder nossa pureza como crentes e nossa unidade na igreja por causa de nossa inveja e cobiça.
A repreensão movida pelo Sinédrio
Vamos voltar, agora, para Atos e ver o que ocorre em seguida. Em Atos 5, verso 18, o que o Sinédrio faz? O texto nos diz: Prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública.
O que está acontecendo é uma tentativa do Sinédrio de acabar com os apóstolos, lançando todos os doze na prisão. Sabemos muito bem que, sendo eles inocentes ou não, isso causaria problemas para os apóstolos. Agora, o histórico criminal deles está sujo; eles cumpriram tempo em prisão. E os tímidos e fracos que estavam pensando em se converter ao Cristianismo, vão agora dizer: “Ah, não sei, aqueles líderes têm passagem pela justiça; são presidiários, acho que não estão dizendo a verdade.”
Essa foi a tentativa do Sinédrio para apagar o fogo desse movimento.
Agora, nesse ponto, Deus revela o que vejo ser um grande senso de humor. Os saduceus não criam em nada sobrenatural. Eles sempre tentavam dar explicação para tudo, assim como muitos hoje tentam. Os saduceus eram os liberais dos tempos de Jesus; eram homens supostamente espirituais, mas, por outro lado, tentavam explicar tudo de forma natural. Dessa forma, negaram que Jesus era Deus em carne por causa do aspecto sobrenatural.
Uma das maiores dificuldades para os saduceus eram os anjos. Eles não gostavam de falar sobre anjos. Na verdade, eles não criam na existência dos anjos. Então, Deus olhou do céu e pensou: “Muito bem, vou tirar esses apóstolos da prisão. Agora, como vou fazer isso? Será que eu deveria causar um terremoto e abrir suas cadeias? [Talvez você se lembre que ele fez isso uma vez com Paulo e Silas]. Não, vou usar um anjo.”
Veja os versos 19 e 20 de Atos 5.
Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse: Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta Vida.
Em outras palavras: “Não retroceda; não recue; não dilua a mensagem do evangelho; não torne a mensagem mais confortável para o povo ouvir, continue a pregar a mensagem da vida por completo.”
Em seu comentário nesse texto, Warren Wiersbe faz uma ilustração com uma história que aconteceu com ele. Ele escreve:
Quando servia na igreja Moody em Chicago, tive a alegria de conduzir um pastor a Cristo...
(Isso mesmo – ele levou um pastor a Cristo. A propósito, existem homens atrás dos púlpitos, mas que não são salvos. Eles têm apenas um interesse profissional, mas não têm nenhum relacionamento com o Salvador. Wiersbe conduziu um desses pastores a Cristo.)
...Ele era um homem talentoso que servia numa igreja rica. Ele voltou para sua igreja e começou a compartilhar Cristo e muitas pessoas foram salvas. Daí, os líderes da denominação chegaram a ele e começaram a ameaçá-lo. “O que eu faço?”, ele me perguntou.
Eu disse: “Fique aí até eles lançarem você fora. Seja amoroso e bondoso, mas não desista.”
Por fim, ele foi forçado a sair da igreja, mas não antes de seu testemunho já ter influenciado muitos na igreja e na comunidade.
Então, o anjo disse para os apóstolos voltarem e continuarem pregando a verdade. Veja o verso 21.
Tendo ouvido isto, logo ao romper do dia, entraram no templo e ensinavam. Chegando, porém, o sumo sacerdote e os que com ele estavam, convocaram o Sinédrio e todo o senado dos filhos de Israel e mandaram buscá-los no cárcere.
Eles não sabiam que os apóstolos haviam escapado. Continue até os versos 22 e 23.
Mas os guardas, indo, não os acharam no cárcere; e, tendo voltado, relataram, dizendo: Achamos o cárcere fechado com toda a segurança e as sentinelas nos seus postos junto às portas; mas, abrindo-as, a ninguém encontramos dentro.
Agora, o texto nos diz que as portas ainda estavam trancadas por fora; os guardas ainda estão em seus devidos postos; nada aconteceu. Daí, eles abrem todos os cadeados, tiram todas as correntes e abrem as portas; ninguém dentro! Contudo, não havia a possibilidade de eles terem saído por outro lugar; só havia um caminho de saída, a porta que ainda estava trancada! Veja o verso 24.
Quando o capitão do templo e os principais sacerdotes ouviram estas informações, ficaram perplexos a respeito deles e do que viria a ser isto.
No original, essa é uma cláusula condicional e eu vouo ampliá-la para esclarecer o significado. Poderíamos adicionar as palavras: “ficaram perplexos a respeito deles e do que viria a ser isso, caso continuasse.”
Todos esses homens estavam pensando: “Confusão... confusão... confusão.”
E as coisas apenas pioram para o Sinédrio. E, enquanto estão murmurando sobre essa enorme confusão, eles tomam conhecimento de outra novidade no verso 25.
Nesse ínterim, alguém chegou e lhes comunicou: Eis que os homens que recolhestes no cárcere, estão no templo ensinando o povo.
Eles pensaram: “Está difícil de acreditar nisso! Temos que fazer alguma coisa.”
Veja os versos 26 a 28a.
Nisto, indo o capitão e os guardas, os trouxeram sem violência, porque temiam ser apedrejados pelo povo. Trouxeram-nos, apresentando-os ao Sinédrio. E o sumo sacerdote interrogou-os, dizendo: Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome...
Mas, espera aí. Você não está sentindo falta de nada nesse diálogo? Que tal a pergunta: “Ei, como vocês fugiram? Colocamos vocês na prisão, trancamos as portas, os guardas ainda estão lá, então, como vocês escaparam?”
Não deveria ser essa a primeira coisa a perguntar? “Queremos saber como vocês fizeram isso.”
Entretanto, não há nenhuma menção disso. a verdade é que eles não queriam saber, então, não perguntaram.” Esses homens do Sinédrio sabem a verdade; sabem que tem alguma coisa diferente, mas eles fecham seus olhos o máximo possível contra a verdade e dizem: “Não vemos nada!”
Então, eles simplesmente ignoram tudo aquilo e perguntam: “Não dissemos para vocês não pregarem mais esse nome aqui?”
Eles nem conseguem dizer o nome “Jesus”. Eles não conseguem reconhecer a verdade inegável do que era um outro milagre.
E eles continuam a repreender os doze, no verso 28:
...contudo, enchestes Jerusalém de vossa doutrina; e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem.
Basicamente, o Sinédrio está dizendo que os apóstolos são culpados de três coisas:
- Primeiro, eles eram culpados de insubordinação.
“Demos ordem para vocês não falarem nesse nome e aqui estão vocês de novo ensinando.”
- Segundo, eles são culpados de proselitismo.
“Vocês encheram Jerusalém com essa doutrina.”
Não seria maravilhoso se a prefeitura de nossa cidade nos convocasse e dissesse: “Vocês encheram a cidade com essas doutrinas.”?
Como nos sentiríamos? Ficaríamos muito contentes porque descrentes, como o conselho do Sinédrio, poderiam dizer: “Esta cidade está cheia da doutrina de vocês.”
- Terceiro, e esse é o real problema em questão, os apóstolos eram culpados de insinuação; ou seja, “Vocês querem lançar sobre nós o sangue desse homem.”
Esse é o verdadeiro problema. Será que eles se esqueceram das suas próprias palavras? Em Mateus 27, versos 24 e 25, quando o povo estava pedindo a liberação de Barrabás, Pilatos disse: “Não vejo nada de errado com esse homem, Ele é inocente, “ os líderes religiosos e a nação gritaram de volta para Pilatos: “Caia sobre nós o sangue desse homem...”
Eles estavam tomados de culpa desde aquela tarde. Quando fechavam seus olhos, viam um homem manchado de sangue, a quem sabiam ser inocente. E os apóstolos estão pegando o punhal da verdade e enfiando no coração desses líderes. A consciência deles é culpada. Eles sabem a verdade!
O Sinédrio era culpado pelo sangue de Jesus e eles disseram aos apóstolos: “Vocês só querem jogar a culpa para cima de nós.” Mas o verdadeiro problema é que a culpa já estava lá.
A verdade faz um corajoso. A culpa transforma um corajoso num covarde. E esses setenta e dois homens são covardes.
A culpa do Sinédrio
Agora, vemos a resposta de Pedro e dos demais apóstolos nos versos 29 a 32.
Então, Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-o num madeiro. Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados. Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem.
Pedro está declarando que a ressurreição de Jesus Cristo comprova a culpa do Sinédrio. “Vocês realmente crucificaram o verdadeiro Messias. E a prova disso é que Ele ressuscitou dos mortos.”
E Pedro vai mais além em sua declaração: “Nós somos testemunhas.”
Em outras palavras, “O Sinédrio não é mais o guardião da verdade.”
Os apóstolos, que representam o alicerce dessa nova coisa chamada “ekklesia,” são os guardiões da verdade. “Vocês, membros do Sinédrio, estão sendo julgados e estão fora da vontade de Deus. Nós, os doze, e a igreja que representamos temos a verdade de Deus para a nação.”
O Sinédrio entendeu. Veja o verso 33.
Eles, porém, ouvindo, se enfureceram e queriam matá-los.
Isso me lembrou de um verso em Hebreus 4, verso 12a:
Porque a palavra de Deus é viva e eficaz... e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes...
Quando a verdade entra, a pessoa ou se arrepende, ou reage. Esses setenta e dois homens reagem e estão prontos para matar esses apóstolos. E eles teriam matado, se não fosse o verso 34.
Mas, levantando-se no Sinédrio um fariseu, chamado Gamaliel, mestre da lei, acatado por todo o povo, mandou retirar os homens, por um pouco...
Esse é Gamaliel o Ancião. Muito foi escrito na história judaica a respeito desse homem. Ele era neto de Hilel, o qual fundou uma das facções dos fariseus. Hilel era um fariseu conservador. Gamaliel se tornou um rabino famoso, mestre e tutor de um dos homens mais brilhantes em Israel durante o tempo dessa redação. Na verdade, a Mishnah, que é a compilação dos preceitos judaicos passados em tradição oral, dizia: “Quando Gamaliel o Ancião morreu, a glória da Lei cessou e morreu a pureza.”
Um dos pupilos mais famosos de Gamaliel abandonaria o judaísmo. Seu nome era Saulo e, quando deixou o judaísmo, seu nome mudou para Paulo.
Então, Gamaliel o Ancião se levanta nos versos 35 e 36:
E lhes disse: Israelitas, atentai bem no que ides fazer a estes homens. Porque, antes destes dias, se levantou Teudas, insinuando ser ele alguma coisa, ao qual se agregaram cerca de quatrocentos homens; mas ele foi morto, e todos quantos lhe prestavam obediência se dispersaram e deram em nada.
A história judaica diz, a propósito, que esse Teudas clamou ter o poder de Moisés e a habilidade de partir a água com seu cajado. Cerca de quatrocentas pessoas acreditaram nele e Teudas liderou uma insurreição contra Roma. Ele os conduziu até o rio Jordão e disse: “Não se preocupem. Quando eles vierem em nossa direção, partirei as águas do rio e passaremos no meio; quando a água voltar, matará todos eles – como Moisés fez com os egípcios.”
Bom, os soldados romanos os encurralaram no rio. Teudas bateu na água algumas vezes, mas nada aconteceu. Ele perdeu sua vida e seus seguidores se dispersaram.
Gamaliel continua no verso 37.
Depois desse, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e levou muitos consigo; também este pereceu, e todos quantos lhe obedeciam foram dispersos.
Judas, o galileu, foi um homem que disse que era da vontade de Deus não pagar mais tributos a Roma. Muitas pessoas gostaram da ideia e pensaram ser a vontade de Deus. E o seguiram. Assim como Teudas, Judas perdeu sua vida e seus discípulos foram espalhados.
Então, Gamaliel continua nos versos 38 e 39.
Agora, vos digo: dai de mão a estes homens, deixai-os; porque, se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus. E concordaram com ele.
Em outras palavras: “Vamos apenas esperar e ver! Se isso for obra de homem, vai se despedaçar; mas, se for obra de Deus, vocês não tem como lutar contra Ele. Então, não vamos combater essa doutrina, fiquem longe dela. Vamos ver o que acontece!”
Parecia ser um bom conselho, mas era algo pragmático, político e fraco. O Sinédrio tinha a responsabilidade de julgar a verdade e o erro, não esperar e ver o que funciona e o que não funciona; não deveriam esconder suas cabeças na areia. Se algo não era verdadeiro, eles deveriam proteger Jerusalém disso; se algo era a verdade, eles deveriam se submeter a isso e mudar. Eles já deveriam estar realizando um estudo aprofundado em busca de todos os milagres e evidências e, nesse momento, já deveriam estar se prostrando diante do trono de Jesus Cristo. Já havia sido validado como sendo de Deus muitas e muitas vezes.
Todavia, lembre-se, a atitude do Sinédrio não era de descobrir a verdade, mas de invejosamente proteger seus empregos. Então, a pergunta que se repetia era: “Como podemos suprimir a verdade?”
Continue até os versos 40 e 41.
Chamando os apóstolos, açoitaram-nos e, ordenando-lhes que não falassem em o nome de Jesus, os soltaram. E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome.
Não ignore o fato de que eles foram embora se regozijando não porque tinham escapado com vida, ou porque tinham visto um anjo, nem porque haviam calado o Sinédrio, mas porque haviam sido considerados dignos de sofrer pelo nome de Jesus.
Então, os apóstolos, de acordo com o verso 42:
E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo.
Aplicação
Deixe-me dar a você dois pensamentos retirados desse texto que servem para o nosso aprendizado hoje.
- Primeiro, em relação ao crente, a adversidade será o selo de aprovação de Deus.
Muitos de vocês vão para a casa diariamente para uma família e amigos ou estão cercados por pessoas que sabem que você é crente e consideram você uma “pedra no sapato.” Seja amoroso, bondoso, gracioso e represente bem o seu Senhor, mas saiba que, se adversidade surgir disso, ela é o selo de aprovação de Deus, não reprovação.
- Segundo, em relação à mensagem que o crente carrega, longevidade será o selo de autenticidade de Deus.
Jesus Cristo disse, como registrado em Mateus 16, verso 18b:
...edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
A mensagem vai continuar... e continuar... e continuar.
Lembro-me de quando fui ao enterro de um amigo querido e membro de nossa igreja. Ele morreu em casa num domingo de manhã. Ele realizava um ministério com a Rádio TransMundial, uma rádio que transmite um mensagem que continua, apesar de tudo, transformando milhões de vidas.
Eu estava caminhando no cemitério com o vice-presidente da TransMundial e ele me disse que estavam recebendo sessenta mil cartas por mês de pessoas da Índia. Sessenta mil pessoas estavam se convertendo por mês na Índia por meio do ministério da Rádio TransMundial. Sessenta mil pessoas por mês dando testemunho a respeito da mensagem de Cristo. Eles começaram mais de trezentas igrejas com as pessoas que eles chamavam de convertidos com a rádio.
Um tempo atrás, eu fiz uma viagem à França para participar da celebração do vinte e cinco anos de ministério missionário feito entre os militares. A cidade à qual fomos, Toulon, fica cerca de três horas de Monte Carlo. Daí, agendamos uma ida de trem a Monte Carlo. Meu interesse nessa cidade é porque é sede de um posto de fronteira da Rádio TransMundial.
Quando lá chegamos, nos encontramos com um dos membros da equipe da TransMundial. Ele nos levou ao local onde a transmissão é feita, o que é algo bastante interessante. É um prédio enorme branco de frente para o mar. Esse prédio foi originalmente construído por Adolf Hitler. Era desse local que ele desejava difundir suas ideias e mensagens para essa parte do mundo. A mensagem de um homem foi silenciada; agora, essa mesma construção é utilizada para transmitir a mensagem do Deus-Homem.
Quando saímos de lá, o nosso anfitrião nos levou a um lugar belo de frente para o mar. E disse: “Olhe para baixo naquela direção à beira do mar. Você vai ver um negócio branco e algumas colunas.”
Vimos algo enorme, colunas brancas enormes construídas originalmente em forma arredondada sobre uma penha. Ao nos aproximarmos, vimos que metade das colunas já havia caído e se despedaçado e a outra metade ainda se sustentava de pé. Foi algo incrível. Esse era um monumento construído por Júlio César em honra à sua vitória sobre a França há mais de dois mil anos atrás. Dá até para ver as palavras em latim declarando sua glória e poder. Achei interessante aquilo. Sob as sombras das antenas da rádio TransMundial, jaz um monumento de um homem que tinha a esperança de dominar o mundo, mas cujo reino foi destruído.
Gamaliel, você está certo, se isso for obra de homens, a voz deles será silenciada e o reino deles não durará. Se for obra de Deus, a mensagem continuará e o reino, que está sendo construído e um dia reinará na terra, no novo céu e na nova terra, será eterno.
Que vivamos mais esta semana sob a luz do poderoso e majestoso Senhor Jesus Cristo.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 08/12/1996
© Copyright 1996 Stephen Davey
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