O Mandamento do Rei

O Mandamento do Rei

Ref: James 1–5

O Mandamento do Rei

Série A Lei do Amor: Resposta à Discriminação – Parte 2

Tiago 2.8–13

 

Introdução

Uma jovem enfermeira de nossa igreja foi discipulada por uma senhora de nossa congregação. A jovem é mexicana e cresceu numa cidade do interior do México. Domingo passado, ela veio até mim após a pregação em Tiago capítulo 2, quando também estudamos a ordem bíblica contra parcialidade ou favoritismo.

Ela me disse que cresceu numa pequena cidade do México que ficava sobre uma montanha. As pessoas eram divididas num sistema invisível de classes e a divisão ficava clara por causa do local onde as pessoas moravam. Os habitantes mais pobres viviam ao pé da montanha. Ali, as casas eram mais baratas e não se tinha o privilégio da bela vista possível de cima da montanha. No meio da montanha havia outro grupo de pessoas que constituíam a classe média. E no topo da montanha ficavam os bairros mais finos e nobres, onde os ricos e influentes moravam.

Durante toda sua vida de infância e adolescência, as crianças, apesar de frequentarem a mesma escola, segregavam-se dentro da escola baseadas na sua localização na montanha. As crianças que moravam na parte de cima da montanha jamais se socializavam com as que moravam abaixo delas. Pelo fato de essa moça morar ao pé da montanha, ela nunca se encaixava no grupo daquelas que moravam na parte de cima da montanha.

Meu amigo, essa montanha é uma metáfora perfeita para o tipo de atitude que Tiago condena. Essa é a atitude de parcialidade e podemos lhe dar o nome que achar melhor:

  • Classismo—relaciona-se a onde você mora na montanha da riqueza e do poder;
  • Racismo—relaciona-se à sua montanha de origem; se você veio de uma montanha racial diferente da minha, então fique longe da minha montanha;
  • Culturalismo—relaciona-se aos seus gostos e interesses na sua montanha que são semelhantes aos meus gostos e interesses na minha montanha; talvez consigamos conviver bem juntos, já que dirigimos o mesmo tipo de carro, vestimos as mesmas roupas, falamos a mesma linguagem, temos a mesma história e gostamos das mesmas coisas.

Daí, chega Tiago e chama tudo isso de perverso! Parcialidade é orgulho motivado pelo pecado. E Tiago continua e diz que a parcialidade é totalmente inconsistente com o Evangelho de Jesus Cristo. O verso 1 de Tiago 2 diz:

Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.

Não seja um esnobe preconceituoso! Baixe o seu nariz; deixe de lado quem você é e de onde veio.

Infelizmente, é de se esperar que o mundo fique impressionado com linhagem de família, contatos importantes, prestígio, educação, raça e posição. Vista marcas boas, coloque um rosto bonito, uma linguagem politicamente correta e teremos uma pessoa que sai do pé da montanha e chega ao topo. Esse é o dna das normas culturais, mas o Evangelho chega e derruba todas essas normas. Jesus Cristo não desce até nós do topo da montanha; foi de muito mais alto do que isso. Ele criou a montanha; ele morava acima da montanha e, contudo, condescendeu e se juntou à raça humana.

Pensaríamos que, quando ele viesse, pararia no topo da montanha e nos mostraria como subir. Mas, ao contrário, ele desceu ao pé da montanha e nos mostrou como descer ainda mais. Jesus Cristo desceu aos níveis mais baixos da sociedade, sendo plano eterno da Triunidade que ele crescesse na família de um carpinteiro com seis meios-irmãos e irmãs mais novos correndo ao redor. Pensaríamos que o Messias em treinamento teria escolhido ser uma criança mimada de um bairro tranquilo. Não Jesus Cristo. Ele nasceu num estábulo emprestado e cresceu com farpas em suas mãos. Orígenes, o pai da igreja do século segundo, disse que arados feitos pelas mãos de Jesus eram usados ainda 90 anos após a sua ressurreição. Ele os construiu com bastante cuidado.

Daí, ele deu início ao seu ministério na Galileia, em meio a pessoas que os judeus consideravam atrasadas e sem importância. Jesus somente adicionou ao mistério da condescendência ao escolher alguns simples pescadores como os futuros apóstolos. Ele também escolheu alguns ricos, a propósito, pelo menos um homem que tinha ganhado fortunas como coletor de impostos em sua empresa; seu nome era Mateus. No registro do Evangelho de Mateus, Jesus Cristo pregou sua mensagem contrária à cultura:

  • Os primeiros serão os últimos;
  • O servo é o líder;
  • Viver é morrer para si mesmo.

Como você vê, Jesus Cristo colocou aquela montanha de cabeça para baixo.

Tiago, um dos meios-irmãos de Jesus, agora pastoreando a igreja de Jerusalém, percebeu à primeira mão que o Cristianismo e preconceito estavam sendo misturados. Ele trata do assunto e exorta o crente a praticar o Evangelho, levar a fé para a vida prática. No capítulo 2 de sua carta, Tiago desafia o crente a olhar além da atração do rosto ou fama, a não misturar o Cristianismo com classismo, racismo, culturalismo ou qualquer que seja o tipo de discriminação ou preconceito. Sempre teremos várias etnias diferentes na igreja  e o Evangelho envolve a variedade da diversidade étnica. Mas a igreja se torna uma nova raça, um sacerdócio unido:

...raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; (1 Pedro 2.9)

Nós somos uma manifestação do Evangelho de Cristo que desceu até ao pé da montanha.

Se você ainda se recorda, os crentes do século primeiro enfrentavam o mesmo problema que os crentes do século vinte e um enfrentam. Tiago ilustrou o problema do preconceito e parcialidade ao nos conduzir a um culto que já havia começado.

Um homem rico chega atrasado; lembra-se do Sr. Brilho? É, ele recebeu o tratamento com tapete vermelho até o banco da frente onde ficavam os assentos de honra. Em seguida, um homem pobre também vem para o culto atrasado, talvez na esperança de não chamar a atenção; e mandaram que ele se sentasse no chão ou que ficasse em pé encostado contra a parede.

Tiago continuou e nos deu vários motivos por que essa pequena reação era, na verdade, um grande indicador de como o mundo fora da igreja havia se infiltrado dentro da igreja.

A propósito, Tiago não sente pena do pobre ou condena o rico; nem Deus. O dinheiro não é a raiz de todos os males; o amor ao dinheiro que é (1 Timóteo 6.10).

Mas essa não é a questão em foco aqui em Tiago. Seu foco é na reação da congregação, e sua reação demonstrava que a igreja havia se tornado nada mais do que uma coleção de preconceituosos esnobes.

O cerne do problema é o orgulho. A atenção que eles deram ao homem rico de posição envolvia a cobiça, como já aprendemos. Os crentes estavam babando naquele homem com inveja dele; eles queriam a vida que ele tinha. E isso é irônico, uma vez que estudiosos gregos apontam que o texto sugere que ambos os homens, tanto o rico como o pobre, eram descrentes. Eles estão simplesmente visitando a igreja para descobrir o que está se passando lá dentro. E eles sairiam daquela igreja tendo descoberto que a vida não era muito diferente dentro da igreja de como era fora dela. Dentro da igreja, as pessoas também estavam competindo para subir ao topo da montanha.

Pense no fato de que Jesus Cristo era exatamente o tipo de homem que essa igreja teria pedido para se sentar no chão, caso tivesse ele aparecido naquele culto. Não é de nos surpreender que Jesus Cristo, até hoje, usa com singularidade os que não são nobres, poderoso ou influentes para demonstrar o chamado do Evangelho da graça.

Enquanto estudava esse texto, foi impossível não pensar em Charles Spurgeon, o pastor da Inglaterra nos anos de 1800, que exerceu um papel fundamental na sua geração e na nossa de hoje. Por um tempo, ele foi criado pelos seus avós porque seus pais eram tão pobres que nem podiam lhe dar os cuidados devidos. O pai de Spurgeon era o que chamamos hoje de “pastor fazedor de tendas”—ele pastoreava e trabalhava secularmente para se manter na vida. O avô de Spurgeon também era pastor. Charles Spurgeon não tinha educação universitária. Em grande parte de sua vida, ele recebeu um treinamento ou educação comum na vila onde morara quando criança. Contudo, sua avó lhe pagava um centavo para cada hino que decorasse. Portanto, não é de se surpreender que é impossível ler um sermão de Spurgeon sem se deparar com letras de algum hino.

Aos 17 anos de idade, Charles Spurgeon começou a pregar para alguns moradores da vila que se reuniam num galpão improvisado. Dentro de dois anos, o galpão já tinha crescido para comportar 400 pessoas. Daí, aos 19 anos, ele foi convidado para pregar na cidade de Londres na principal igreja da cidade, o que havia sido antes uma igreja enorme, mas que estava em decadência há vários anos, com pouquíssimas pessoas se reunindo aos domingos, apesar de haver lugar para mil pessoas.

Spurgeon pensou que o convite havia sido um engano e tentou rejeitá-lo. Mas depois o aceitou e foi a Londres pregar. Quando lá chegou para pregar para menos de 100 pessoas, a história nos informa que suas roupas não lhe couberam direito, seu cabelo estava assanhado ele simplesmente não se encaixou na cultura de Londres. Seu pai até lhe havia dito que ele cometeu um erro em ir para Londres.

Uma adolescente que estava naquela pequena congregação naquele dia ainda se recordava de como a aparência de Spurgeon fora uma distração—até mesmo algo cômico. Ela escreveu:

Seu cabelo longo e mal cortado, seu paletó de cetim preto folgado e seu lenço [que não combinava] azul com bolinhas brancas, o que ele usou como [ilustração] em seu sermão, chamou muito a atenção das pessoas, o que despertou em mim sentimentos interessantes.

Alguns anos depois, ela se tornaria sua esposa e provavelmente o ajudaria a escolher outros lenços!

Dentro de dois anos, aquela igreja estaria transbordando e vários anos depois eles construíram o Tabernáculo Metropolitano, com lugar para 5 mil pessoas, e Spurgeon pregaria ali por pouco mais de 35 anos.

Isso me lembra as palavras de Paulo aos coríntios:

Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.  Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes (1 Coríntios 1.25–27)

Deus escolheu os ninguéns para confundir os alguéns! Veja só, Deus colocou a montanha de ponta-cabeça! E é hora de a igreja se ajustar n também!

Então, qual é a solução, Tiago? Como acertamos essa questão? Tiago responde essa pergunta nos versos 8 a 13. Fornecerei a resposta de Tiago na forma de três declarações.

  • A primeira declaração é simplesmente esta: “Vamos nos refamiliarizar com o coração de Deus.”

Note o verso 8:

Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem;

Muita tinta já foi gasta na tentativa de definir o que exatamente Tiago quer dizer com esse verso. A frase a lei régia não aparece em mais lugar algum nas Escrituras.

Entretanto, baseados na própria citação de Tiago, podemos ter uma ideia. Tiago está repetindo as palavras de Cristo registradas em Mateus 22, versos 37 a 40, onde ele diz:

Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.

Mais à frente, Jesus expandiu a definição de teu próximo para incluir qualquer ser humano em necessidade a quem Deus nos dá a oportunidade de ajudar.

Esse é o mandamento do Rei e ele reflete o seu coração. Essa é a lei do Rei soberano que flui de sua natureza perfeita e todos estão sujeitos à lei que ele decreta. Não há como apelar aos tribunais.

Ela é chamada de lei régia porque é a lei suprema que revela a supremacia do Evangelho de Deus. Essa lei pode ser dividida em dois relacionamentos: o relacionamento com Deus e o relacionamento com o homem. Jesus Cristo resumiu todos os ingredientes da lei em Mateus ao dizer: ame a Deus e ame as pessoas.

Então, a lei é tanto vertical (amor para com Deus) como horizontal (amor para com os homens), e todas as demais leis dependem dessas duas. Elas permanecem sempre juntas porque refletem a natureza e caráter de Deus.

Nos anos primitivos da igreja na geração de Tiago, os estudiosos judeus criam que a Lei era uma série de mandamentos independentes. Ou seja, guardar um mandamento era crédito; ao quebrar um mandamento, o indivíduo entrava em débito. Assim, o homem poderia somar os mandamentos que guardava e subtrair os que quebrava para ter o que podemos chamar de “um saldo no banco.”

E isso, é claro, havia se tornado algo que o inimigo do Evangelho ama encorajar: a visão de que Deus está sentado no céu ao lado de uma balança com seu nome escrito nela; daí, todas as suas boas obras vão num prato da balança e as obras más no outro prato. Se conseguir com que suas boas obras pesem mais do que as más, então, você ganha o favor de Deus. Todavia, a Lei não funciona dessa forma.

Tiago descreve a lei como uma corrente conectada por elos; violar uma parte da lei significa se tornar transgressor de toda lei. Olhe mais abaixo o verso 10, onde Tiago escreve:

Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos.

Em outras palavras, somos considerados transgressores da lei mesmo se violarmos apenas um mandamento. Se você quebrar um elo da lei, quebra a corrente inteira e se torna um transgressor da lei.

Se você está pendurado num desfiladeiro por uma corrente com dez elos, qual elo é realmente importante para você? “O elo nº 3 não é tão importante; o nº 9 também não é lá essas coisas... pode quebrar esses dois; ficarei bem.” Acho que não; estão todos conectados.

Existe ainda outra forma de entender a unidade da lei que Tiago descreve. Se considerarmos o pecado do preconceito ou parcialidade e conectá-lo aos Dez Mandamentos, descobriremos que, de alguma forma, cada mandamento em particular é direta ou indiretamente violado:

  • O primeiro e o segundo mandamentos são violados simplesmente porque Deus ordena que não sejamos parciais ou preconceituosos; ao agirmos com preconceito, colocamos a nossa vontade acima da dele, idolatrando nossa opinião ao invés de temer a ordem de Deus;
  • O terceiro mandamento é quebrado porque favorecer uma pessoa em detrimento da outra é uma má representação do nome de Deus;
  • O quarto mandamento é quebrado ao mostrarmos favoritismo na igreja, tornando a adoração impura;
  • O quinto mandamento desonra o pobre e não devemos desonrar a ninguém, especialmente aqueles a quem devemos demonstrar cuidado e preocupação;
  • Preconceito e favoritismo matam o espírito e a esperança do pobre ao menosprezá-lo, violando, assim, o sexto mandamento;
  • O sétimo mandamento é violado quando favorecemos o rico e mais poderoso porque demonstramos infidelidade ao Senhor e aos irmãos, com quem temos comunhão;
  • O oitavo mandamento é quebrado ao roubarmos do pobre a dignidade que eles possuem pelo fato de serem criação de Deus;
  • O novo mandamento é violado porque preconceito implica dizer que certas pessoas têm menos valor que outras, o que é uma mentira e um testemunho falso;
  • E o décimo mandamento é quebrado porque o favorecimento ao rico é uma forma de cobiça que valoriza bens materiais acima de pessoas.

E as pessoas nessa congregação podem até tentar dizer: “Certo, violamos a lei, mas mostramos amor para com esse homem aqui. Na verdade, amamos aquele pobre ali também, apenas mostramos esse amor de forma diferente.”

Veja: o amor não evita a lei, mas cumpre a lei. Na verdade, o amor é superior, está acima da lei. A lei régia é a lei do amor. Mas simplesmente porque você ama não significa que não deve obedecer à lei. Tiago diz: “Se você realmente deseja amar, guarde a lei. E acontece que a maior de todas as leis é a lei do amor.”

Portanto, classismo, racismo, culturalismo, favoritismo ou seja qual for a forma de discriminação não constituem um delito leve; eles violam a maior lei que existe. Parcialidade, preconceito, favoritismo violam tanto a lei vertical como a lei horizontal. Esse tipo de atitude não é nada mais do que uma violação do coração de Deus, o qual não faz acepção de pessoas. Deus não possui favoritos!

Deus não possui como alvo alguma cultura, classe social ou raça em particular. Ele não apresenta o Evangelho de forma a atrair apenas um segmento da sociedade como a igreja faz hoje. Você não fica feliz com isso—que o Evangelho não é somente para pessoas que moram no topo da montanha ou no meio da montanha? O Evangelho é para todos, de cima a baixo! Precisamos nos refamiliarizar com o coração de Deus.

  • A segunda declaração é: “Precisamos ser realistas com as desculpas esfarrapadas.”

Agora, Tiago prevê que a igreja pode sacudir os ombros e dizer: “Certo, de fato, poderíamos ter sido mais bondosos para com o pobre homem. Mas veja: fomos bondosos para com o rico; de dois acertamos um. Foi 50% de acerto!”

Contrário a essa ideia, Tiago diz nos versos 9 e 10:

se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo argüidos pela lei como transgressores. Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos.

Tiago prevê uma defesa, já que lida com a natureza humana, e a natureza humana é muito esperta quando o assunto é desculpas e justificativas.

Alguém disse que temos milhões de leis na sociedade para lidar com as desculpas criadas por pessoas que não guardam os Dez Mandamentos! Então, Tiago prevê desculpas. Note o verso 11:

Porquanto, aquele que disse: Não adulterarás também ordenou: Não matarás. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei.

Digo novamente, a lei é uma unidade.

Somos todos transgressores da lei, não porque tenhamos quebrado cada mandamento em particular, mas porque quebramos mandamentos. Tiago está dizendo: “Você não se coloca diante de um juiz como culpado de assassinato e diz: ‘Mas Vossa Excelência, eu nunca furtei nada, então tenho que ser absolvido.’”

Essa é a natureza humana. Diga a alguém que ele é pecador e raramente você ouve: “Você está certo, eu fiz isso, e aquilo e outra coisa.” Não, geralmente ouvimos: “Eu não! Nunca cometi esse tipo de coisa!”

Tiago usa linguagem de tribunal aqui. Um sistema de justiça jamais diria a um homem acusado de roubo: “Sabe, existem centenas de crimes que você nunca cometeu; então, vamos liberá-lo.”

O problema com o coração humano é que olhamos para a discriminação e dizemos: “Mas eu nunca cometi crimes maiores diante de Deus, como adultério ou assassinato.” E Tiago responde: “Aí está você novamente com sua natureza humana tentando justificar as coisas, se defendendo, agindo como a cultura deste mundo.”

Tiago prova como o favoritismo é pecaminoso ao colocá-lo ao lado de adultério e assassinato. Sinceramente, o que ele diz é que pecado é pecado, e qualquer pecado é tão pecaminoso quanto outro. Determinados pecados têm maiores consequências do que outros, mas todo pecado nos torna transgressores.

A palavra transgressor no final do verso 11 é composta e significa “andar ao lado, ultrapassar.” O termo é usado a respeito de alguém que tem uma trilha a caminhar pela frente, mas que sai do caminho, ultrapassa os limites de sua trilha.

Pecar é ultrapassar a linha; é o fracasso ao tentarmos andar na trilha, segundo essa ilustração de Tiago. O que Tiago chama de transgressão, o mundo e nossa natureza caída tentarão justificar: “Não somos tão maus assim!”

Eu li recentemente a história de um homem que passou grande parte de sua vida como um empresário bem sucedido. Mas, aos 91 anos de idade, ficou conhecido como o ladrão de banco mais velho dos Estados Unidos. Ao ser entrevistado, ele disse: “Sabe por que eu roubo bancos? Porque me sinto bem, bem demais! Eu me sinto bem por várias horas... até mesmo por vários dias.” Em 1998, uma semana antes de completar 87 anos, ele invadiu um banco para assaltá-lo, mas foi preso por três meses. Seu companheiro de cela também era um ladrão de banco e o ensinou como roubar bancos. Quando ele saiu da prisão, tentou novamente outro roubo de banco, mas também foi preso. Dessa vez, ele passou três anos preso e, aos 87 anos de idade, tornou-se o presidiário mais velho do estado. Quando saiu da prisão, ele pegou o carro de seu sobrinho e tentou outro roubo a banco, mas foi, pela terceira vez, pego e preso, e acabou morrendo oito meses após sua última tentativa.

Durante seu último aprisionamento, ele foi entrevistado, já que tinha se tornado interessante aos jornais locais. Em uma entrevista ele afirmou: “Eu vivi uma vida ótima e não me arrependo de nada.”

“Eu vivi uma vida ótima.” Bom, evidentemente, ele viveu pelo menos grande parte de sua vida em bom estilo. Mas ele também tentou roubar dinheiro de outras pessoas; ele se tornou um fardo à população honesta que paga impostos que financiam o sistema penitenciário; ele se tornou um criminoso ladrão de banco e ainda diz: “Eu vivi uma vida ótima e não me arrependo de nada.” O que ele está dizendo? “Eu não fiz outras coisas tão ruins e irei me concentrar nas coisas boas que fiz. Sou um bom homem e vivi uma vida boa... não estou preocupado com o fato de estar sentado numa prisão neste momento.”

Tiago diz: “Não caia nesse tipo de defesa caída e corrupta quando o assunto é preconceito e parcialidade. Esses também são crimes contra o coração de Deus. Pare de dar desculpas! Não existe saída. O preconceito faz de nós transgressores da mesma forma.”

Então, o que faremos? Bom, aqui está minha terceira e última paráfrase da resposta de Tiago ao favoritismo e preconceito.

  • “Vamos nos determinar a demonstrar amor e misericórdia.”

Tiago escreve no verso 12:

Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade.

O antídoto ao racismo e classismo é lembrar-se de que somos criaturas responsáveis por nossas ações. Todos prestaremos contas diante daquele que nos salvou, nos redimiu e nos deu a liberdade para sermos seus escravos e demonstrar sua própria natureza a outras pessoas. Dessa forma, seguimos a lei da liberdade.

Ouça, o crente que vive como escravo da vontade de Deus desfruta da maior liberdade. Submissão à vontade de Deus produz no escravo de Deus a maior alegria possível. Não existe maior satisfação, maior liberdade do que dizer: “Senhor, obedecerei ao que tu queres que eu faça. E aqui tu estás mandando que eu derrube todo preconceito e parcialidade em meu coração para com as outras pessoas. Estou disposto! Farei isso, pois posso tudo em Cristo que me fortalece!”

A propósito, isso ainda está no contexto daquilo que Tiago disse no capítulo 1, verso 26. Em outras palavras, não pare de buscar oportunidades para amar e servir um órfão, viúva ou pobre.

Tiago escreve no verso 12: Falem... e procedam de tal maneira. O verbo está no presente imperativo ativo; ou seja: “Continuem assim falando e assim procedendo; não parem, continuem!” Esses são imperativos; essa é a maneira predileta de Tiago conversar: apenas obedeça!

Gosto da maneira como D. L. Moody simplifica esse texto: “A Bíblia de todo o crente deve estar presa ao couro do sapato.”

Vamos admitir: existe algo em ordens que nos faz resistir; existe algo na responsabilidade que evitamos; existe algo nas pressões para ser bondosos e educados do qual buscamos fugir.

Você, por acaso, já ficou no estacionamento de algum shopping ou supermercado esperando uma pessoa sair com o carro para poder pegar aquela vaga? Você fica indignado, pensando que a pessoas está demorando de propósito. Pois é, adivinha o que? Sua imaginação é uma realidade. Um estudo recente feito com 400 motoristas em um shopping apontou que motoristas demoram mais para sair com seu carro quando existe alguém atrás deles esperando para pegar sua vaga. Eu sabia! Em média, esse estudo descobriu que, se não houver ninguém esperando pela vaga, motoristas levam 32 segundos para sair de seu lugar. Mas se houver alguém na espera pela vaga, os motoristas demoram até dez vezes mais para sair. E se o motorista na espera buzinar, eles demoram mais cinco segundos.

O segredo, então, é não deixá-los perceber que você está esperando pela vaga. Isso é bem comum à natureza humana, não é? “Pare de me pressionar, não me apresse. Você não vai me obrigar a sair daqui. Vou começar a me mexer quando quiser e estiver pronto.”

Tiago diria ao crente: “Vai logo! O mundo está esperando você falar e agir em amor. E você deve demonstrar isso não somente às pessoas que vivem no topo da montanha, mas também aos que vivem no pé e no meio dela.”

Tiago conclui sua discussão que começou 14 versos antes ao afirmar no verso 13:

Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo.

Não entenda errado. Tiago não diz que misericórdia é merecida; se fosse merecida, deixaria de ser misericórdia. Ele simplesmente nos fornece neste verso dois aforismos ou dizeres de sabedoria. Essas são duas declarações unidas por uma conjunção, uma técnica que categoriza em forma de axioma duas verdades gerais.

A primeira verdade é: o mundo, conhecido por sua falta de misericórdia, será julgado sem misericórdia. Não há misericórdia no Grande Trono Branco em Apocalipse 20. Será eternamente tarde demais.

O mundo que se dividiu em classes e categorias com gosto e orgulho—o mundo que tem se governado com preconceito, parcialidade e poder; o mundo que fez um círculo ao seu redor e deixou Cristo do lado de fora—esse mundo será um dia julgado da mesma maneira e se encontrará em apenas uma classe ou categoria, a saber: condenados eternamente.

Mas o crente que conhece o Salvador escapará, pois, conforme o provérbio de sabedoria de Tiago no verso 13, conhecemos a verdade que a misericórdia de Deus triunfará sobre o julgamento. Cristo nos salvou segundo a sua misericórdia (Tito 3.5). Efésios 2, versos 4 e 5, diz:

Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, -- pela graça sois salvos,

Em nós, sua misericórdia triunfou sobre o julgamento e um dia estaremos todos em apenas uma classe ou categoria de pessoas, a saber: os redimidos para sempre.

O desafio para você, amigo descrente, é o seguinte: corra para a misericórdia de Deus; corra para Cristo para achar nele perdão e completa aceitação.

O desafio para o querido servo de Cristo é este: uma vez que somos pessoas que receberam e para sempre receberão a misericórdia de Deus, será que podemos fazer outra coisa além de demonstrar tal misericórdia?

  • Vamos nos refamiliarizar com o coração de Deus;
  • Vamos ser realistas com nossas desculpas; e
  • Vamos determinar demonstrar misericórdia e amor ao mundo.

 

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no ano de 2010

© Copyright 2010 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

 

 

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