
O Homem que Tinha A Vida Feita
O Homem que Tinha A Vida Feita
Ciclos de Pecado... Histórias da Graça—Parte 6
Juízes 13–14
Introdução
Hetty Green foi a mulher mais avarenta dos Estados Unidos. Ela morreu em 1915, deixando para trás, para a surpresa de todos, dinheiro e ações que somavam mais de 1 milhão de dólares. Todavia, ela nunca desfrutou do que tinha. Ela se alimentava de papa de aveia fria todos os dias: aveia porque era barato e fria porque custava dinheiro para esquentar no fogão. Numa ocasião, seu filho machucou a perna e acabou tendo que amputá-la porque a mãe tardou no tratamento buscando auxílio médico grátis. Que desperdício! A história dessa mulher nos leva a concluir que ela tinha muito, mas vivia como se não tivesse absolutamente nada.
Damos continuidade à nossa série de estudos no livro de Juízes. Chegamos hoje à vida de um homem que lembra um pouco a história de Hetty Green. Trata-se de Sansão, que é finalmente um juiz sobre o qual sabemos alguma coisa. Quanto mais estudei sua vida, mais claro ficou para mim que ele era como essa avarenta: Sansão tinha muito, ele tinha tudo que realmente importava, mas viveu como se não tivesse absolutamente nada.
Quando pensamos em Sansão, algumas coisas imediatamente nos vêm à mente. Ele foi um homem que:
- nunca cortou o cabelo por causa de seu voto nazireu;
- era forte—o Hércules do Antigo Testamento;
- era um peso-pesado que, no fim, foi derrotado por Dalila, um peso-pena.
Sansão tem muito a nos ensinar. Lemos sobre o segredo de seu sucesso, o segredo de sua força e o segredo de seu fracasso. Deus, contudo, registra mais informação sobre esse homem além desses detalhes muito conhecidos.
Sansão foi o juiz a que Deus dedicou mais tempo no livro de Juízes. Na verdade, ele é o único juiz cujos pais recebem um capítulo inteiro no livro. Enquanto estudava sua vida, ficou claro para mim que o primeiro estudo sobre Sansão deveria focar um pouco na vida de seus pais: Manoá e sua esposa.
A Vida e Os Dias na História de Sansão
Vamos começar lendo Juízes 13.1:
Tendo os filhos de Israel tornado a fazer o que era mau perante o SENHOR, este os entregou nas mãos dos filisteus por quarenta anos.
O pano de fundo da história de Sansão é a opressão dos filisteus sobre os israelitas. Sem dúvidas, os filisteus eram o maior pesadelo israelita.
1 Samuel 13 conta que, sob o domínio filisteu, os hebreus não podiam possuir ferro para que não fabricassem lanças e espadas. Um fazendeiro não podia amolar seu machado sem a permissão de seus tiranos.
Os israelitas foram oprimidos pelos filisteus por mais tempo do que outra nação qualquer. Esse inimigo só foi conquistado pelo rei Davi, que os dizimou.
Juntamente com a opressão pelos filisteus, lemos sobre a apatia e rebelião israelita. Essa é uma das únicas ocasiões no livro de Juízes em que não vemos arrependimento, nenhum clamor de ajuda. Os israelitas não imploram pela misericórdia de Deus; eles não pedem que ele envie um libertador.
Novamente, os livros de Samuel nos informam que o sacerdócio era imoral. Eli era o sumo sacerdote nessa época em que idolatria e apostasia estavam em alto nível.
Quando lemos e estudamos esses capítulos, descobrimos que Israel permanece em silêncio e o povo passa a pertencer ao reino dos filisteus. Os israelitas tinham até começado a se casar abertamente com mulheres filisteias pagãs, o que era uma violação da Aliança Abraâmica.
É com esse pano de fundo que somos apresentados a Manoá e sua esposa. Veja Juízes 13.2:
Havia um homem de Zorá, da linhagem de Dã, chamado Manoá, cuja mulher era estéril e não tinha filhos.
A vida do casal é interrompida de repente. Veja o verso 3:
Apareceu o Anjo do SENHOR a esta mulher e lhe disse: Eis que és estéril e nunca tiveste filho; porém conceberás e darás à luz um filho.
Que notícia maravilhosa para essa mulher! Ela nunca pensou que ouviria essa notícia.
Os versos seguintes mostram o motivo por que esse casal foi selecionado por Deus. Perceba as palavras da esposa de Manoá nos versos 6–7 quando ela corre para contar a novidade ao marido:
Então, a mulher foi a seu marido e lhe disse: Um homem de Deus veio a mim; sua aparência era semelhante à de um anjo de Deus, tremenda; não lhe perguntei donde era, nem ele me disse o seu nome. Porém me disse: Eis que tu conceberás e darás à luz um filho; agora, pois, não bebas vinho, nem bebida forte, nem comas coisa imunda; porque o menino será nazireu consagrado a Deus, desde o ventre materno até ao dia de sua morte.
Posso imaginar Manoá olhando para a esposa e dizendo: “Querida, você andou tomando vinho de novo?”
É interessante, contudo, que o que se passa entre eles fornece uma boa lição sobre os ingredientes para um bom casamento. Eles são:
- ingrediente número 1: respeito mútuo.
Manoá nunca duvida de sua esposa. Talvez você se lembra de alguns casais mais antigos do Antigo Testamento que riram diante da palavra de Deus. Manoá acredita na história da sua esposa, por mais estranha que pareça.
- Ingrediente número 2: transparência espiritual.
A esposa de Manoá vai até ele com a notícia. Em seguida, ele leva o assunto a Deus e conduz o casal em oração. Em meio a essa crise—nessa encruzilhada em sua experiência—o que Manoá faz? Ele diz: “Querida, precisamos orar sobre isso.”
Observe a bela oração de Manoá em Juízes 13.8:
Então, Manoá orou ao SENHOR e disse: Ah! Senhor meu, rogo-te que o homem de Deus que enviaste venha outra vez e nos ensine o que devemos fazer ao menino que há de nascer.
Com muita frequência, parece que corremos para todo lugar em busca de conselho, menos para Deus.
Agora, o Anjo do Senhor aparece novamente, não para adicionar informação sobre a criação do menino Sansão, mas para fornecer informação acerca de si mesmo. Veja o verso 17:
Perguntou Manoá ao Anjo do SENHOR: Qual é o teu nome, para que, quando se cumprir a tua palavra, te honremos?
Manoá ainda não reconheceu que esse é o Anjo do Senhor, o que é conhecido como “teofania,” ou seja, uma expressão visível de parte da glória de Deus. Ninguém jamais viu a Deus em toda sua glória e permaneceu vivo. Essa é uma manifestação visível de Deus, provavelmente do Cristo pré-encarnado.
O Anjo do Senhor responde de forma tremenda a pergunta de Manoá no verso 18:
Respondeu-lhe o Anjo do SENHOR e lhe disse: Por que perguntas assim pelo meu nome, que é maravilhoso?
O termo maravilhoso pode ser traduzido como “incompreensível.” Em outras palavras, o Anjo do Senhor é indescritível; o que ele tem a dizer é profundo demais para Manoá entender; sua mente finita não conseguiria compreender o que o Anjo do Senhor tinha para falar.
Continue em Juízes 13.19:
Tomou, pois, Manoá um cabrito e uma oferta de manjares e os apresentou sobre uma rocha ao SENHOR; e o Anjo do SENHOR se houve maravilhosamente. Manoá e sua mulher estavam observando.
O verso 20 conta a maravilha que ele realizou:
Sucedeu que, subindo para o céu a chama que saiu do altar, o Anjo do SENHOR subiu nela; o que vendo Manoá e sua mulher, caíram com o rosto em terra.
Pule para os versos 22–23:
Disse Manoá a sua mulher: Certamente, morreremos, porque vimos a Deus. Porém sua mulher lhe disse: Se o SENHOR nos quisera matar, não aceitaria de nossas mãos o holocausto e a oferta de manjares, nem nos teria mostrado tudo isto, nem nos teria revelado tais coisas.
- O ingrediente número 3 para um bom casamento é: espírito ensinável.
Podemos até ouvir Manoá dizendo: “Você está certa, querida, não tinha pensado nisso.” Esse líder espiritual do lar permite que sua esposa o instrua espiritualmente.
Agora, não somente a dedicação desse casal um ao outro é algo óbvio, mas sua dependência no Senhor é óbvia também. Precisamos entender que, até agora, Deus não respondeu as orações desse casal. Esposas estéreis eram vistas como recipientes de julgamento de Deus. Então, a esposa de Manoá estava sendo supostamente punida por Deus por causa de algo que tinha feito. Manoá era um fazendeiro pobre. Prosperidade financeira era sinal da bênção de Deus no Antigo Testamento. Esse casal tinha todo motivo do mundo para crer que Deus tinha dado as costas para a nação de Israel e para eles também. A vida não era fácil e eles tinham todo motivo para ficar amargurados, mas continuavam crendo no Senhor.
Permita-me fornecer neste ponto alguns princípios de aplicação que emergem da história de Sansão.
- Primeiro: é possível ter a melhor vida na pior época!
Esse não era um tempo fácil para se viver, amar, crer e confiar; essa era uma época terrível para se criar um filho. A imoralidade dos filisteus era abundante.
Você já parou para pensar que não existe momento algum em que é fácil se viver uma vida piedosa em segurança? Será que em algum momento da história foi fácil nutrir um casamento que honra a Deus e criar uma família piedosa? Quando foi fácil para um solteiro viver uma vida de pureza? Nunca foi fácil.
Deixe-me compartilhar o que li num periódico:
O mundo é grande demais para nós. Tem coisa demais, crimes demais, violência demais e agitação demais acontecendo. Por mais que tente, você perderá essa corrida. É difícil manter o ritmo... e, mesmo assim, você perde espaço. A ciência despeja suas descobertas sobre nós tão rapidamente que tropeçamos debaixo delas em perplexidade desesperadora. O mundo da política é notícia tão rápida que é difícil saber quem está dentro e quem está fora. Tudo está sob alta pressão. A natureza humana não conseguirá suportar isso por muito tempo.
Isso soa parecido com o jornal desta manhã, mas foi escrito em 1833. Será que o mundo alguma vez foi um lugar seguro e fácil de viver?
Entretanto, aprenda com Manoá e sua esposa: mesmo em tempos difíceis como os deles, é possível viver uma vida que honra a Deus. A vida era tão difícil, tentadora e imoral naquela época como é hoje. A despeito disso, encontramos nessa passagem um relato encorajador e animador de amor e compromisso matrimoniais. Não podemos usar a pressão como desculpa para o pecado; nossa cultura não justifica nosso pecado.
Lições e Verdades na História de Sansão
Algo, porém, acontece entre Juízes 13 e 14. Não sabemos o que, mas algo um tanto estranho acontece. O compromisso desses pais fica evidente ao leitor—esse pai e essa mãe fizeram o compromisso de criar o nazireu Sansão direito. E eles fizeram o melhor que puderam.
Na última parte do capítulo 13, lemos sobre o jovem e forte Sansão. O verso 25 diz que o Espírito do SENHOR passou a incitá-lo. O verbo incitá-lo é usado para falar de um instrumento sendo afinado pelo musicista. Sansão está sendo preparado para ser tocado pelo Espírito de Deus.
Todavia, as primeiras palavras de Juízes 14 exclamam sérios problemas. Algo deu errado. O que deu errado? O cabelo de Sansão está comprido—ele nunca tinha ido ao cabelereiro. Ele nunca tocou num odre de vinho, nem num cadáver. Esses eram os mandamentos de separação de um nazireu. Mas em Juízes 14, encontramos Sansão a caminho de uma vila dos filisteus para escolher para si uma esposa. Por que? Deixe-me fornecer o segundo princípio de aplicação:
- Segundo: Sansão compreendeu o código de separação do nazireu, mas não o conceito de santidade.
Sansão tinha tudo certo do lado de fora; ele se parecia com um nazireu, cheirava como um e falava como um. Do lado de dentro, porém, ele era um pagão.
O mesmo problema existe hoje quando tentamos equilibrar nossa aparência com o verdadeiro eu em nosso interior.
Elizabeth Elliot escreveu sobre um jovem rapaz que tinha muito fervor para abandonar o mundo e seguir a Cristo intimamente. Ele perguntou: “O que mais preciso abandonar além do pecado?” As respostas que ele recebeu foram as seguintes:
Abandone roupas coloridas; jogue fora tudo em seu guarda-roupas que não é branco. Pare de dormir com um travesseiro macio. Venda seus instrumentos musicais. Se é sincero em seu desejo de seguir a Cristo, não tome banho quente, nem faça sua barba. Barbear-se é o mesmo que tentar melhorar a obra de Deus, nosso Criador.
Isso foi escrito no século segundo d.C. 150 anos depois de Cristo ter vivido na terra, essa era a opinião prevalente entre os cristãos. Busca por equilíbrio é algo que tem existido há mais de 1900 anos.
O conceito de santidade é interno e, ao mesmo tempo, possui aparência externa que nos marca assim como marcou Sansão. Não abandone a ideia de aparência física ligada ao crente. A aparência física de Sansão não era mero legalismo, mas uma marca.
Em nossos dias, a pessoa que fala de vestimenta é vista como legalista. Será que Paulo era legalista? Não! Leia a passagem na qual ele teve a audácia de instruir as mulheres como não pentear seus cabelos e que tipo de joia usar. Veja 1 Timóteo 2.9:
Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso,
Paulo fala para as mulheres não usarem ouro e pérolas. Ele até as manda ficar longe de roupas de preço extravagante! Os maridos estão pensando: “É isso mesmo! Amém!”
Contudo, nos dias de Paulo, quem fazia trança nos cabelos era a prostituta. Ela usava um vestido costa-nua e, ao fazer uma trança, expunha seu corpo ao máximo para os homens. Ela também usava muitas joias de ouro que até tiniam quando andava. Ela era uma propaganda ambulante. Por causa de sua profissão próspera, ela conseguia comprar roupas feitas dos tecidos mais caros, o que fazia com que ficasse mais bonita e, acima de tudo, chamasse a atenção de todos.
Lembro de ouvir Charles Swindoll pregar sobre esse assunto e ele fez uma observação muito interessante. Ele disse: “Maridos, acordem para a forma como suas esposas se vestem. Elas podem estar inconscientemente pedindo sua atenção.”
Levo isso um passo mais adiante: “Pais, acordem para a forma como suas filhas se vestem.” Maridos e pais, suas esposas e filhas podem estar inconscientemente pedindo sua atenção e elas podem consegui-la em outro lugar.
A questão na passagem de Paulo, e a questão hoje, é se vestir de maneira que deseja atenção. Deus quer que nos vistamos de maneira a dar atenção a ele.
O problema com Sansão, entretanto, é que ele seguiu padrões externos e ignorou a santidade interna. Seu cabelo era comprido, mas seu coração era desobediente.
Volte para Juízes para observarmos o terceiro princípio.
- Terceiro: todo aquele que ignora a qualidade interna será governado por atração externa.
Veja Juízes 14.1–2:
Desceu Sansão a Timna; vendo em Timna uma das filhas dos filisteus, subiu, e declarou-o a seu pai e a sua mãe, e disse: Vi uma mulher em Timna, das filhas dos filisteus; tomai-ma, pois, por esposa.
O costume da época nessa cultura era de os pais arranjarem o casamento. O texto hebraico é interessante porque a palavra mulher está numa posição de ênfase. Sansão diz: “Pai, mãe... eu estava em Timna outro dia e vi uma mulher! Consiga-a para mim.”
A propósito, não há nada de errado em atração física. Eu me casei com uma mulher que balançou meu coração. Lembro da primeira vez que a vi na faculdade numa aula de literatura. Como eu gostava de literatura. Sentava-me no fundo da sala e ficava só observando-a de longe.
O problema não está em se sentir atraído fisicamente; o problema surge quando olhamos para a pessoa errada. Sansão olha na direção errada; ele estava fora dos limites.
Seus pais reagem em choque no verso 3:
Porém seu pai e sua mãe lhe disseram: Não há, porventura, mulher entre as filhas de teus irmãos ou entre todo o meu povo, para que vás tomar esposa dos filisteus, daqueles incircuncisos?...
Houve certa discussão na família por causa disso; dava para ouvir tudo a três quarteirões dali. Manoá e sua esposa estavam ficando doidos, dizendo: “Nós o criamos como um nazireu! Demos a melhor criação possível. Agora que chegou a hora de você escolher uma esposa não existe nem sequer uma em Israel boa o suficiente para você? Você tem que ir atrás daquelas outras?!” Os pais tinham toda a razão.
Podemos quase ouvir os dentes de Sansão rangendo em afronta quando ele diz no verso 3: Toma-me esta, porque só desta me agrado. Perceba bem que as primeiras palavras de Sansão registradas na Bíblia são: Vi uma mulher. E é exatamente isso que acabará com sua vida no fim.
Deixe-me destacar mais um princípio.
- Quarto: um pai comprometido ao Senhor pode nunca colher piedade na vida de seu filho.
Já conversei com pais de coração quebrantado. Já recebi ligações no decorrer de meu ministério de pais dizendo: “Pastor, a polícia veio e levou meu filho. Tem como você vir até aqui na delegacia?”
É possível que pais espirituais criem filhos que decidem, depois, rejeitar os valores bíblicos. Sansão tinha recebido tanto dos pais, mas rejeitou tudo isso. Veja os recursos que Sansão jogou fora:
- ele tinha sido concebido milagrosamente. A minha própria esposa foi um milagre—ela não deveria ter nascido. Isso é algo especial. Talvez você seja um milagre também. Sansão nem deveria ter sido concebido—foi milagroso! Tenho certeza que seus pais o lembraram: “Ouça bem, filho, você é especial!”
- ele tinha pais piedosos que amavam o Senhor e um ao outro;
- ele foi abençoado por Deus com uma missão especial;
- ele foi capacitado pelo Espírito de Deus para fazer a obra.
Ele tinha todas essas coisas, mas deu adeus a todas elas.
O nome hebraico “Sansão” significa “como o sol.” Ele era a luz nas vidas de seus pais, mas cresceu e decepcionou seus corações. Quando ele foi para casa e disse: “Vi uma mulher em Timna e eu quero ela!” o mundo deles desmoronou.
- O quinto princípio é: a vida do próprio Sansão espelhou o fracasso da nação inteira de Israel.
A vida de Sansão em si já é uma pregação! Veja as formas como ele reflete o fracasso da nação de Israel:
- Sansão recusou a autoridade da Palavra de Deus, assim como Israel. Os israelitas eram idólatras e estavam casando com o povo filisteu.
- Sansão recusou viver segundo os padrões do voto nazireu. Como veremos, Israel recusou a aliança.
- Sansão recusou o conselho de seus pais piedosos e o povo de Israel rejeitou o conselho do sacerdócio, que era sua autoridade espiritual. O sacerdote nessa época era Eli, conforme o livro de Samuel. Talvez o fato de ele ser um líder fraco e inconsistente tenha contribuído para a infidelidade da nação.
Perceba, agora, uma frase que é repetida em Juízes 14. No verso 3, dela me agrado; e no verso 7, dela se agradou. Vá, agora, para o final do livro de Juízes. Em Juízes 21.25, lemos que cada um fazia o que achava mais reto. Em outras palavras, a nação de Israel fazia o que parecia melhor aos seus olhos. Sansão viveu dessa maneira e morreu tragicamente. A nação de Israel não experimentaria liberdade novamente por muitos, muitos anos.
- O sexto princípio de aplicação é: o fracasso do povo de Deus jamais frustra os propósitos de Deus.
As intenções de Deus não são paralisadas pelo nosso pecado. Deus é soberano; sua obra continuará. Sansão cumpriria seu dever e começaria a libertar o povo de Israel da tirania dos filisteus, a despeito de sua desobediência. Deus cumprirá seus propósitos.
Veja Juízes 14.5–6:
Desceu, pois, com seu pai e sua mãe a Timna; e, chegando às vinhas de Timna, eis que um leão novo, bramando, lhe saiu ao encontro. Então, o Espírito do SENHOR de tal maneira se apossou dele, que ele o rasgou como quem rasga um cabrito, sem nada ter na mão; todavia, nem a seu pai nem a sua mãe deu a saber o que fizera.
Pule para os versos 8–9:
Depois de alguns dias, voltou ele para a tomar; e, apartando-se do caminho para ver o corpo do leão morto, eis que, neste, havia um enxame de abelhas com mel. Tomou o favo nas mãos e se foi andando e comendo dele; e chegando a seu pai e a sua mãe, deu-lhes do mel, e comeram; porém não lhes deu a saber que do corpo do leão é que o tomara.
Por que não contou essas coisas aos seus pais? Porque Sansão tinha violado o voto nazireu; ele tocou no corpo de um animal morto. Será que Deus tira a vida de Sansão ali mesmo, naquela mesma hora? Será que uma voz estronda dos céus? Não. Sansão, na verdade, de forma imprudente transforma esse episódio numa charada em sua festa de casamento.
Veja Juízes 14.10:
Descendo, pois, seu pai à casa daquela mulher, fez Sansão ali um banquete; porque assim o costumavam fazer os moços.
Existe um problema aqui porque o termo hebraico traduzido como banquete também pode ser entendido como festa de bebedice. Essa, portanto, pode ter sido mais uma ocasião em que Sansão violou o voto nazireu, o qual determinava que ele nunca poderia beber do fruto da videira. Será que Deus falou do céu em julgamento? Não. Apesar de Sansão estar pecando, Deus cumpre seus propósitos.
O problema foi que Sansão entendeu o silêncio de Deus como aprovação ou apatia. E isso nos conduz ao sétimo princípio.
- Sétimo: um dos incentivos mais enganadores para pecar é a noção de que Deus parece não se apressar para executar julgamento.
Podemos passar a vida inteira nos rebelando contra Deus e ele pode não nos julgar imediatamente. Contudo, sofreremos as consequências de nossos pecados. Nosso coração tolo pode ficar tão endurecido que pensamos que estamos bem porque Deus não nos julga. Veja o que diz Eclesiastes 8.11:
Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal.
Quando a sentença por um crime demora a ser executada, o coração das pessoas se enche de esquemas para fazer o que é mau. Pensamos que estamos escapando ilesos. Por 20 anos, Sansão escapará, mas Deus, no fim, o convocará a prestar contas. Sansão perderá sua recompensa completa.
Veja Juízes 14.12, onde uma festa é realizada e Sansão conta a charada: Disse-lhes, pois, Sansão: Dar-vos-ei um enigma a decifrar. Pule para o verso 14: Do comedor saiu comida, e do forte saiu doçura.
Nós sabemos que Sansão está falando do leão e do mel, mas os filisteus não conseguem decifrar a charada. Como resultado, perdem a aposta e devem a Sansão 30 vestes festivais. Então, eles pressionam a noiva e dizem: “Use seu charme com ele... chore um pouco.” Veja o verso 16: Tão-somente me aborreces e não me amas. Continue no verso 17:
Ela chorava diante dele os sete dias em que celebravam as bodas; ao sétimo dia, lhe declarou, porquanto o importunava; então, ela declarou o enigma aos seus patrícios.
Sansão perderá a aposta e a esposa também. O problema é que Sansão não aprenderá com essa experiência. E isso me conduz ao último princípio.
- Oitavo: o indivíduo controlado por suas paixões pode nunca aprender com seu passado.
Não aprendemos com nossos erros necessariamente, ao menos que Deus nos ensine.
A palavra-chave no verso 17 é importunava, que é o mesmo verbo usado em 16.16 para falar de Dalila importunando Sansão para lhe contar seu segredo. Dois capítulos depois, ele se torna presa da mesma coisa com outra mulher. Ele é amolecido pelas lágrimas e insistência de Dalila. No fim, ele revela seu segredo e isso acaba com sua vida.
A pessoa controlada por suas emoções e paixões navega pelo mar da vida sem uma bússola, ela anda sem entendimento e direção.
Para concluir, lemos o último registro dos pais de Sansão em Juízes 16.31. Evidentemente, Deus deu mais filhos a esse casal piedoso:
Então, seus irmãos desceram, e toda a casa de seu pai, tomaram-no, subiram com ele e o sepultaram entre Zorá e Estaol, no sepulcro de Manoá, seu pai. Julgou ele a Israel vinte anos.
Sansão, o homem que tinha a vida feita, jogou tudo fora. Ele tinha tudo, mas jogou tudo fora!
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