
Língua Descontrolada
Língua Descontrolada
Série Terapia da Fala – Parte 1
Tiago 3.1–5
Introdução
Existe um tipo de planta comum utilizada para decoração de casa chamada dieffenbachia. Ela é conhecida por suas folhas grandes verdes com tons de verde-limão e amarelo. O que muitas pessoas não sabem é que as folhas dessa planta são tóxicas. Se uma animal de estimação ou uma criança mastigar uma das folhas, sua língua pode inchar por um tempo, impossibilitando a fala.
Os especialistas no assunto da fala estimam que uma pessoa em média cria 12 mil sentenças compostas de 50 mil palavras por dia. Se fôssemos imprimir tudo isso, seria uma edição de cerca de 150 páginas. E duvido que alguém desejaria ler esse livro ao final do dia.
Suponhamos que, durante a semana passada, um gravador digital o acompanhou para todos os lugares, gravando tudo o que você disse. E aí, você deixaria que essas gravações se tornassem públicas? O pregador J. Vernon McGee disse certa vez: “Um bebê leva dois anos para aprender a falar e cinquenta anos para aprender a como ficar calado.”
A verdade é que jamais conseguiremos controlar a língua. Contudo, ela ainda é um dos maiores dons concedidos por Deus à humanidade.
A Bíblia revela que a língua tem poder para curar, encorajar, edificar, ensinar, apoiar, exortar, cantar, orar e louvar, mas esse pedaço de músculo e nervo medindo poucos centímetros pode também realizar os efeitos contrários.
A primeira tentação veio pelas palavras da serpente. O primeiro pecado após a queda de Adão e Eva foi o pecado de uma fala equivocada—Adão falou que o pecado foi culpa de Deus, já que Deus havia criado Eva e lhe dado como esposa. Daí em diante, as coisas apenas pioraram.
A Bíblia descreve que a fala tem o poder de corromper, perverter, bajular, caluniar, fofocar, blasfemar, murmurar, amaldiçoar, seduzir, destruir e desviar; e isso é apenas para começar.
Toda vez que vou ao médico, a primeira coisa que ele faz é analisar minha língua porque, no mundo físico, a língua geralmente revela sintomas de problemas mais graves. A língua é, no fundo, um dedo-duro. E como detestamos dedos-duros, não é?
Em minha casa, meus pais tinham consequências sérias para meus três irmãos e para mim quando apanhávamos na escola; isso mesmo, naquela época apanhávamos na escola. E isso me coloca na geração dos patriarcas Abraão e Isaque. Uma das regras era que, se apanhássemos na escola, automaticamente apanharíamos em casa também. Eles simplesmente supunham que a escola estava certa. Você imagina uma época em que os pais concordavam com a escola ao invés de com seus filhos? Que tipo de mundo era esse?
Bom, numa tarde, fui levado pela minha professora da quarta série para a biblioteca, que era o local das surras. Evidentemente, essa professora não havia desenvolvido o fruto do Espírito, especialmente o aspecto da paciência.
O maior problema foi que o meu irmão mais velho viu a professora me levando para a biblioteca, e ele automaticamente já sabia o porquê (não era para dar uma pesquisada nos livros!). No ônibus, quando estávamos no caminho de volta para casa, eu lhe implorei e ele prometeu que não daria uma de dedo-duro. A escola não informava os pais sobre a surra; então, eu ainda tinha uma chance de meus pais nunca descobrirem. Esse era o primeiro pedido de oração na minha lista.
Naquela noite, quando estávamos à mesa jantando, meu irmão disse aos meus pais que eu tinha algo a dizer. Eu garanti que não tinha nada a compartilhar, a não ser meu testemunho. Isso acabou conduzindo a uma ligação dos meus pais para a professora; isso levou à verdade... o que levou à Grande Tribulação... e não havia nenhum arrebatamento perto.
Mas meus pais ainda tinham outra regra. Se você apanhasse na escola e não confessasse a eles, levaria uma surra de cada um deles, tanto do pai como da mãe. Eles aprenderam isso com um homem chamado Hitler. Então, naquele dia eu apanhei três vezes, o que, comparado a outros dias, foi um bom dia.
Veja bem, ninguém gosta de uma pessoa dedo-duro, mas o dedo-duro não é o problema real. A língua é somente o mensageiro que entrega a carta escrita pelo coração. A língua é o dedo-duro que atua pelo coração. E isso porque a língua e o coração estão intimamente conectados. Salomão escreveu: O coração do sábio é mestre de sua boca e aumenta a persuasão nos seus lábios (Provérbios 16.23). Jesus Cristo disse em Lucas 6, verso 45: a boca fala do que está cheio o coração.
É por isso que todos nós temos o mesmo obstáculo da fala e ele se chama pecado. E nada revela melhor nosso pecado do que nossa fala. Portanto, não é de nos surpreender que a carta de Tiago passa a tratar do assunto da fala à medida que o apóstolo explora o tema da maturidade cristã.
A grande maioria, ou talvez se não todo o capítulo 3, revela que cada crente, sem exceção, está em necessidade tremenda de uma terapia da fala. E Tiago dá início à discussão com uma proibição bem séria.
- Uma Advertência Séria.
Note o verso 1:
Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo.
Esse é, na verdade, um imperativo e poderíamos traduzi-lo: “Não se torne um mestre com muita rapidez!”
Creio que Tiago relaciona esse princípio ao ensino das verdades bíblicas, mas essa advertência pode muito bem se estender ao contexto fora da igreja.
Por que o mestre passará por um escrutínio maior? Porque o mestre lida com a fala, seu instrumento é o discurso, seu agente é a língua por meio da qual produz a aula e influencia vidas. Os mestres lidam com palavras, conceitos, ideias e doutrinas que influenciarão e formarão o pensamento daqueles debaixo de seus ensinos. Deixe-me voltar um pouquinho e expor o problema que, creio eu, estava na mente de Tiago aqui.
A palavra para mestre é didáskalos. Ela vem do contexto da sinagoga judaica e carrega a ideia de grande admiração. Os mestres e pastores do Novo Testamento estavam, de alguma forma, herdando o legado dos rabinos.
O rabino era um mestre judeu que estudava a lei e sua aplicação à vida e ensinava outros. Essa era a posição de influência mais elevada na sinagoga e provavelmente em toda a comunidade judaica, ficando em segundo lugar apenas para o Supremo Tribunal Judaico, o Sinédrio.
Um especialista em estudos no Antigo Testamento disse que o rabino era tratado de uma forma que destruía o caráter de qualquer homem. O nome em si já significava “O maior” ou “Meu maior.” Para onde quer que ele fosse, as pessoas diziam: “Olá, maioral, como você está?” Isso seria o equivalente em nosso idioma a dizer: “Você é o melhor de todos!” Isso era suficiente para arruinar basicamente qualquer um.
Durante os dias de Tiago, o povo afirmava que a responsabilidade de um homem para com um rabino era superior à sua responsabilidade para com seus pais, já que seus pais apenas lhe trouxeram a esta vida deste mundo, enquanto o rabino o conduzia à vida vindoura. Se os pais de uma pessoa e seu mestre fossem capturados pelo inimigo e sequestrados para resgate, era dito que a pessoa deveria resgatar o rabino.
Daí, saímos da sinagoga e vamos para a vida da igreja em desenvolvimento. Tiago está nos dias iniciais dessa transição. Os mestres não seriam mais rabinos. Eles não precisariam ser treinados em como ensinar e falar na congregação. Havia a tentação da admiração e respeito, e o fato de as sinagogas terem uma política de púlpito aberto a palestrantes visitantes concedeu a Paulo várias oportunidades únicas. Mas, ao mesmo tempo, rabinos egoístas utilizavam essa política do púlpito disponível apenas para se promover.
Tiago diz: “Espere aí, você quer o púlpito? Deseja a posição? Não se esqueça do preço. Deseja respeito? Já parou para pensar na responsabilidade? Você está assumindo esse papel porque busca admiração? Não ignore que um dia você precisará prestar contas a Deus de seus ensinos.” Paulo também desafia Timóteo a trabalhar duro na Palavra, manuseando-a e interpretando-a com precisão (2 Timóteo 2.15).
Então, Tiago diz no verso 1:
Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo.
A última sentença está no futuro—passaremos por um juízo mais estrito. Tiago se refere ao julgamento do Bema de Cristo diante do qual todo crente comparecerá um dia, não para determinar se ele entrará ou não no reino, mas para determinar onde ele servirá durante o reino. Todos os descrentes serão julgados no Julgamento do Grande Trono Branco antes de serem lançados no Lago de Fogo, conforme Apocalipse 20. Já o crente será julgado no Julgamento do Bema de Cristo, um julgamento que basicamente envolve uma avaliação de nossas obras, conforme 2 Coríntios 5.10. E Tiago revela que os mestres serão julgados de acordo com um padrão mais elevado:
- pastores;
- líderes de jovens;
- professores de Escola Dominical;
- professores de adultos;
- líderes de estudos bíblicos;
- pregadores itinerantes;
- missionários;
- conselheiros cristãos;
- líderes de pequenos grupos.
Basicamente, qualquer um que ensinou e comunicou as verdades da Palavra de Deus a outros receberá uma dose dobrada de julgamento, passará por uma análise mais detalhada, um julgamento mais estrito. Cada palavra será julgada não só em sua apresentação, mas em sua precisão, efeito, tom de voz, espírito, motivação e influência.
Você sabe o que isso significa? Significa que o ensino, especialmente o ensino relacionado às coisas espirituais, é a atividade mais perigosa do planeta.
Gosto do fato de Tiago mudar o pronome no verso 1 para a primeira pessoa do plural. Você notou a palavra no verso 1? Sabendo que havemos de receber maior juízo. E início do verso 2: Porque todos tropeçamos em muitas coisas.
Tiago não está dizendo simplesmente: “Vocês aí passarão por esse julgamento.” Não, nós prestaremos contas de forma mais rigorosa—nós, os que ensinamos. Tiago diz: “Eu também estou incluído nisso.”
E eu também! Eu não somente estou pregando isso a você que ensina, mas prego para mim mesmo também! Neste exato momento, existe a possibilidade de eu mesmo estar me condenando. Isso é especialmente perigoso para mim.
Talvez você esteja pensando: “Eu já ia me voluntariar para ensinar as crianças de 9 anos. Estava pensando em me voluntariar para dar aula na Escola Dominical.” Talvez você esteja conduzindo um estudo bíblico com as senhoras ou um pequeno grupo, ou esteja no seminário se preparando para o ministério. Vá em frente! Tiago não está fechando o escritório de recrutamento de novos obreiros. Ele simplesmente apresenta uma advertência necessária.
Seja cuidadoso; não venha despreparado; não trate o ensino com pouca seriedade; não entre na prática do ensino por motivos pessoais; viva para o benefício de seus alunos; resista aos elogios; lembre-se de que você é um vaso de barro; tema e ore para que você não conduza seus alunos ao erro.
Uma prova final será aplicada aos professores. Que ironia, não é? Jesus Cristo, o Supremo Pastor, irá dar a nota. Ele determinará e recompensará aquele que foi preciso em seu ensino, que teve motivações espirituais, benéficas e edificantes, que foi corajosamente verdadeiro e que honrou a Deus. Como você vê, aquele que entende bem a gravidade do futuro Julgamento do Bema não se apressa ao púlpito.
Quando subiu ao púlpito para pregar fielmente a Palavra de Deus pela primeira vez, o reformador escocês John Knox ficou em grande temor e reconheceu o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ele chorou e pranteou descontroladamente e teve que ser conduzido para fora do púlpito, até que conseguiu se recompor e retornar à pregação.
- Agora, seguindo essa advertência seríssima, existe um Reconhecimento Surpreendente. Tiago aplica seus comentários não somente aos mestres, mas a toda a congregação dos crentes.
Note o verso 2:
Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo.
Veja mais uma vez como Tiago se inclui nesse reconhecimento: Porque todos tropeçamos.
Muito bem, Tiago! Eu pensava que um apóstolo não teria esse problema. Não fazia ideia de que um líder e autor como você teria o mesmo problema que eu tenho, especialmente em relação à fala; então, isso é encorajador. Jó também sofria do mesmo problema porque, quando Deus o confrontou por causa de suas palavras, Jó respondeu: Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca.
Isaías foi um servo fiel de Deus como qualquer outro profeta, mas, ao se encontrar com o Deus vivo, ele disse: sou homem de impuros lábios (Isaías 6.5). Palavras precipitadas foram proferidas por Moisés, como lemos no Salmo 106. Com frequência demasiada, o apóstolo Pedro abria sua boca. E ele fez uma declaração nobre e resoluta ao dizer: Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim (Mateus 26.33).
O primeiro historiador da igreja, Eusébio, escreve que Tiago foi apelidado de “O Justo” por causa de sua grande virtude. Tiago escreve: Porque todos tropeçamos. E note que ele não disse: “Porque todos tropeçamos fatalmente.”
A palavra tropeçamos significa “escorregar” naquilo que falamos e Tiago utiliza o tempo presente para mostrar que a experiência de tropeçar ocorre muitas e muitas vezes.
E isso é alguma surpresa para você? Você pode estar pensando: “Com certeza, você não está falando sobre mim. Não escorrego constantemente com minhas palavras.” Bom, pergunte à sua esposa se isso se aplica a você.
Perceba, agora, que Tiago escreve: Porque todos tropeçamos em muitas e os tradutores optaram pela palavra coisas. Ela poderia ser traduzida: “todos tropeçamos em muitas palavras.” Na verdade, Tiago continua escrevendo: Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo.
Aqui está a palavra perfeito novamente. É o termo teleios, que se refere ao processo de amadurecimento, não à perfeição. Tiago está simplesmente dizendo que o progresso é revelado pelo “dedo-duro” que mora dentro da nossa boca.
Thomas Manton, um escritor e pregador Puritano dos anos de 1600, esclareceu o assunto em seu comentário na carta de Tiago. Ele escreveu que havia duas categorias de alunos nas disciplinas judaicas: os iniciantes (aqueles que tinham começado sua caminhada cristã e experimentado certas atitudes virtuosas) e os perfeitos (aqueles que já haviam obtido certo progresso em sua instrução).
Thomas continua e afirma que o verso poderia ser lido: “Qualquer um que consegue refrear sua língua não é um iniciante—alguém que está experimentando uma virtude. Na verdade, é um indivíduo perfeito—alguém que já tem realizado algum progresso.”
Isso é um grande desafio! Quando pensa que progrediu, você acaba escorregando. Um autor comentou: “Por que o caminho da vida cristã é tão cheio de cascas de banana?”
E o texto sugere que Tiago se sentia da mesma maneira. Na minha concepção, essa é a atitude daquele que está progredindo. Já destaquei que Tiago usou a primeira pessoa do plural para incluir a si mesmo. No final do verso 1 e início do verso 2, ele diz:
sabendo que havemos de receber maior juízo. Porque todos tropeçamos em muitas coisas.
Mas, agora, Tiago descreve o homem perfeito, ou seja, o crente em processo de amadurecimento; ele muda o pronome no meio do verso novamente. Note o verso 2:
Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo.
Tiago sustém o padrão elevado para todos nós seguirmos; mas, ao mesmo tempo, ele sutilmente se une aos que ainda não chegaram no ponto desejado; e esse seu reconhecimento é uma marca de um crente que genuinamente está amadurecendo.
Em meu ministério, tenho tido o privilégio de estar cercado por homens e mulheres piedosos que já têm servido a Cristo por 40, 50, 60 anos. Cada um deles faz exatamente o que Tiago acabou de fazer: nas suas conversas, eles se incluem não com os crentes totalmente maduros que vivem o padrão elevado, mas com os iniciantes que ainda precisam aprender muita coisa.
Não desista, continue; escorregando, tropeçando e começando de novo. A maturidade na vida cristã não passa de uma série de recomeços. Lembre-se de que você não está em busca de perfeição, mas progresso.
Então, não desista e não relaxe também. Tiago não nos dá um passe livre. Ao contrário, ele tem desafiado o cerne de nossas atitudes e pensamentos. Ele já atacou nosso preconceito e discriminação; ele já desafiou nossa reação às tribulações e nossa perspectiva quanto à tentação. Ele tem questionado a sinceridade de nossa fé com base na evidência das obras.
Agora, Tiago nos matricula para uma aula que desafiará a arte da fala e do discurso, e ele passará a maior parte do tempo nesse assunto. Tiago escreve no verso 2: Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo.
Em outras palavras, se refrearmos nossa língua, refrearemos também o corpo inteiro. O que isso significa? Pense nisso da seguinte forma:
- Um homem que corre uma maratona pode correr em volta de sua casa;
- Um cirurgião pode retirar uma farpa;
- E um chef renomado consegue fazer um ovo mexido.
Eles já aprenderam as coisas mais difíceis, então podem realizar as mais simples. Tiago está dizendo que, quando você refreia sua língua, todas as demais coisas se tornam fáceis.
Note agora como o autor ilustra para nós como a língua é realmente poderosa. Ele utiliza dois cenários simples a fim de ilustrar a mesma verdade.
- Ilustrações Simples.
Note o verso 3:
Ora, se pomos freio na boca dos cavalos, para nos obedecerem, também lhes dirigimos o corpo inteiro.
Em outras palavras, se você colocar os instrumentos certos na boca de um cavalo, mesmo que sejam instrumentos simples como os freios, poderá controlar um animal de grande porte e força. O interessante é o seguinte: o cavalo continua sendo muito mais forte do que você; mesmo com o freio, o cavalo continua maior e mais veloz do que você.
A sua única esperança em conseguir uma carona no cavalo e ganhar controle do belo animal é colocando os freios em sua boca. Com os freios, você pode galopar em direção ao pôr do sol.
Nessa analogia, o freio é a sua língua e ela controla o corpo inteiro. Algo menos poderoso é capaz de controlar algo mais poderoso. O movimento desse pequeno órgão, a língua, pode, pela fala, determinar a direção da vida.
Tiago ainda nos fornece outra ilustração. Note o verso 4:
Observai, igualmente, os navios que, sendo tão grandes e batidos de rijos ventos, por um pequeníssimo leme são dirigidos para onde queira o impulso do timoneiro.
Novamente, comparado ao tamanho do navio, o leme parece ser algo até improvisado. Entretanto, sem ele, aquela fera gigantesca flutuando sobre o mar seria deixada à mercê dos ventos e ondas. O pequeno leme faz toda a diferença e determina se o barco é digno de ir ao mar ou não.
Isso pode ser perfeitamente ilustrado pelo navio de guerra alemão, o Bismarck, quando ele foi enviado para guerrear contra a Inglaterra na Segunda Guerra Mundial. O Bismarck era o grande orgulho da frota alemã e seu destino era colocar a marinha inglesa nos túmulos do oceano. Assim que a notícia chegou aos ingleses, a Marinha Britânica enviou o seu melhor navio de combate, o Hood, com 2 mil oficiais e marinheiros a bordo para interceptar o Bismarck e afundá-lo. Mas, ao invés disso, quando os dois navios se enfrentaram, o Bismarck lançou fogo e afundou o Hood. E a situação se tornou desesperadora, já que agora o Bismarck poderia atacar as linhas navais britânicas das quais a Grã-Bretanha dependia para sobreviver.
Então, o almirante inglês juntou uma pequena frota na esperança de interceptar o Bismarck antes de ele chegar ao porto para reabastecimento. Um pequeno porta-aviões se aproximou perto o suficiente do Bismarck e despachou alguns aviões. Um desses aviões lançou um torpedo que foi a toda velocidade em direção ao Bismarck. Mas um pequeno torpedo não faria tanto dano. O mais importante, contudo, é que o torpedo atingiu o leme do navio e o danificou. Agora, esse quartel militar sobre as águas não fazia nada além de navegar em círculos. Os navios de guerra ingleses chegaram àquela noite, tomaram suas devidas posições e começaram a dar uma surra no Bismarck, que continuava, em grande frustração, navegando em círculos. Por causa do pequeno leme, o capitão não pôde controlar mais o navio. Assim, o Bismarck explodiu e afundou sob das ondas do mar.
Tiago escreve: “Olhe os navios! Apesar de serem enormes, são controlados por um pequeno leme.”
E Tiago continua no verso 5: Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes coisas. Pequenos pensamentos originados no coração e transformados em palavras podem direcionar o corpo, o que, com efeito, direciona a vida inteira. Pense nisso:
- Sua língua pode tornar seu casamento tanto em algo amargo como em algo doce;
- A língua pode separar colegas de trabalho e arruinar sua carreira, ou pode encorajar e unir sua equipe;
- Sua língua pode aceitar um convite que arruína seu caráter ou rejeitá-lo e proteger sua integridade pessoal;
- Sua língua pode desafiar Deus e conduzi-lo à destruição eterna ou pode se render a Deus, o que, no final, levará à alegria eterna.
A língua é pequena demais, mas é capaz de conduzir seu corpo e sua vida inteira a ruínas.
A propósito, a chave não é o controle da língua. Na verdade, em nosso próximo estudo, descobriremos uma declaração maravilhosa no verso 8 de que a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar.
A questão não é o controle da língua, mas o controle do Espírito. Tanto o freio como o leme são ilustrações semelhantes porque ambos precisam estar debaixo do controle de alguém—de um cavaleiro habilidoso e de um capitão experiente. Você não é nenhum desses dois, nem eu sou.
Por isso, Davi orou no Salmo 141, verso 3: Põe guarda, SENHOR, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios. O Senhor é quem faz isso! Davi também disse no Salmo 19, verso 14:
As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor meu!
O Senhor é quem guarda!
O Senhor da sua vida é o único forte e sábio o suficiente para ser o Senhor de seus lábios, sua língua e sua boca.
Vamos terminar nosso estudo com alguns desafios de Thomas Manton, aquele pastor Puritano que conduziu sua congregação pela epístola de Tiago nos anos de 1600.
- Primeiro, repreenda outros com mansidão.
Todos precisamos de perdão e todos escorregamos nos mesmos caminhos.
- Segundo, dependa da graça de Deus com cada vez mais seriedade.
Deus deseja que você dependa e se agarre ao seu poder.
- Terceiro, engrandeça o amor de Deus com mais e mais gratidão.
Parar de dizer coisas não é o suficiente. É preciso começar a dizer coisas com gratidão e alegria.
- Finalmente, ande cada vez com mais cautela.
Você carrega dentro de si um coração pecaminoso. O homem que tem pólvora em seu corpo deve sempre temer fagulhas. Palavras excelentes!
Lembro-me da oração de um santo piedoso antigo que deve ser sempre a oração de nossos próprios lábios: “Oh, Senhor, encha a minha boca com coisas proveitosas e me alerte quando já tiver falado demais.”
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no ano de 2010
© Copyright 2010 Stephen Davey
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