A Verdade sobre As Provações

A Verdade sobre As Provações

Ref: James 1–5

A Verdade sobre As Provações

Série Transformando A Fé numa Realidade na Terra – Parte 2

Tiago 1.2–12

 

Introdução

Jamais irei me esquecer do que um professor meu disse em sala uma vez. Eu tinha quase uns 30 anos e ele disse: “Deus nunca usará você até que o tenha ferido.” O motivo por que nunca irei me esquecer disso é que pensei que o professor tinha perdido algum parafuso. Quanto pessimismo! Eu me lembro de pensar: “Nossa, ele está por fora! Sofrimento e utilidade na obra do Senhor não estão necessariamente ligados.” Mas quando minha fé imatura começou a crescer em teoria e prática, passei a perceber que ele estava certo.

Meu amigo, colocar a fé em prática na sua vida está mais relacionado, acima de qualquer outra coisa, a como você reage diante dos problemas. Portanto, não nos surpreendemos com o fato de que, no pequeno livro de Tiago, quando ele começa a desafiar o crente a transformar a fé numa realidade prática, ele imediatamente abre o jogo, nos falando a verdade sobre os problemas.

Não ignore o fato de os destinatários originais estarem passando por tribulações. A última parte do verso 1 é geralmente negligenciada. Note que Tiago escreve: às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações.

Na maioria das vezes, o termo dispersão ou “diáspora” se refere a judeus que viviam fora da Palestina. A palavra dispersão pode ser traduzida como “espalhados,” como as sementes são espalhadas pelas mãos do agricultor. De fato, a dispersão desses judeus é equivalente à dispersão ou ao ato de espalhar a semente do Evangelho. Mais especificamente para os destinatários da carta de Tiago, muitos desses judeus haviam sido espalhados por causa da perseguição romana. O imperador romano Cláudio estava conduzindo os judeus a exílio. Debaixo de seu regime, os judeus foram expulsos de suas terras e de Roma. A vida era insegura e cheia de ameaças.

Mas os judeus que seguiam a Jesus tinham um problema duplo em suas mãos. Pelo fato de serem judeus, eles eram odiados e perseguidos pelos gentios; e, pelo fato de serem judeus que agora seguiam a Jesus Cristo, eles sofriam perseguição de seu próprio povo.

Pense em problemas! Eram tribulações em todos os níveis possíveis. Tudo havia mudado para eles; foram literalmente espalhados e forçados a deixar seus lares, e tiveram que correr para outras cidades e vilas a fim de salvar suas vidas.

Você sabe como já é difícil deixar seu lar e se mudar para outro lugar, mesmo sendo da sua vontade. Quando tempo você tem para se preparar? Pense nos detalhes: planejamento, arrumação de malas, a confusão, as horas, as perguntas; e isso é quando você se muda numa data que você mesmo escolheu.

Agora, imagine que você estivesse assistindo ao jornal da noite e visse e ouvisse que os crentes estão proibidos de morar na sua área; todos os crentes possuem, e debaixo de possível pena de morte, apenas uma hora para deixar suas casas e o seu município. Pense em ter que jogar tudo o que puder dentro de suas malas e caixas e correr pela sua vida.

Então, quando lemos as palavras às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações, por trás dessas palavras estão volumes de tribulações, problemas, perguntas, sofrimento e dúvidas.

Talvez seja por isso que Tiago vai direto a esse assunto. Sem quase nem ter dito “oi,” Tiago começa a discursar o assunto principal na mente daquelas pessoas e na mente de todos os que desejam viver sua fé na prática: O que fazer quando estamos cercados de problemas? Então, Tiago, com efeito, começa sua carta dando a resposta a uma pergunta que ele sabia bem que os destinatários se perguntavam; e essa ainda é a mesma pergunta que crentes fazem hoje, 2 mil anos depois. E a resposta de Tiago está carregada de verdades sobre os problemas.

  • A Premissa

Acompanhe Tiago 1, verso 2:

Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações.

Circule em sua Bíblia ou em sua mente a expressão o passardes no verso 2.

  • A primeira verdade sobre os problemas é que eles são inevitáveis.

Tiago não disse: “Meus irmãos, se vocês passarem por várias provações, tenham alegria,” mas o passardes.

Logo no princípio, Tiago diz a todos nós que devemos esperar problemas. As tribulações virão. Na verdade, nós nem precisamos correr atrás de problemas, eles mesmos nos encontrarão.

Muitas pessoas bem intencionadas creem que, se você tiver fé suficiente, o seu problema, seja ele qual for, irá passar. Se você realmente está seguindo a Jesus, tribulações e provações se tornarão passado e você viverá para sempre no topo da montanha, com saúde, riqueza, o trabalho dos seus sonhos, os relacionamentos perfeitos e uma vida livre de problemas. Mas não é isso que Tiago diz. Ele diz: “Quando vocês passarem por problemas, encarem-nos com toda alegria.”

Faria muito mais sentido para nós se ele tivesse dito: “Tenham por motivo de toda alegria escaparem das provações,” não é? Isso sim transmitiria melhor a ideia de uma vida alegre.

Afinal, alegria, obviamente, é ausência de problemas, não é? Se você é um escravo de Deus e deseja fazer a vontade do seu Mestre, o Senhor Jesus Cristo, com certeza as provações passarão bem longe de você.

Todavia, Jesus Cristo disse algo radicalmente diferente disso com seus próprios lábios: “No mundo tereis aflições” (João 16.33); “Basta a cada dia o seu próprio mal” (Mateus 6.34). Paulo também falou aos convertidos em Atos 14, verso 22: “mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus.” Em outras palavras, a experiência do crente é bem distinta, não por causa da ausência de provações, mas pela presença delas. Tiago disse: o passardes, não “se passardes.”

De forma bem semelhante, muitos crentes de várias nações são, hoje, o povo de Deus espalhado como sementes de suas mãos, dispersos pela sua soberania ao redor do mundo para servir como luz e sal. Nós não somos o povo que Deus abriga num local seguro, mas o povo espalhado por Deus.

  • A segunda verdade que Tiago revela sobre os problemas é que as provações são não somente inevitáveis, mas são também ilimitadas.

No final do verso 2, ele diz: o passardes por várias provações. A palavra grega para várias carrega consigo a ideia de “marcado.” A vida do crente será marcada, salpicada, respingada com provações de todo tamanho e formato imagináveis.

Podemos traduzir isso como “multiforme.” Ou seja, as provações surgem em todos os tipos, embalagens, formatos e tamanhos diferentes; elas podem envolver saúde, finanças, relacionamentos, bem-estar futuro, posição social, emprego, passado, esperanças ainda não concretizadas, filhos e muito mais. As provações surgem em cores tão variadas como as cores do arco-íris. Tiago diz que as provações são inevitáveis e ilimitadas.

  • A terceira verdade que ele revela é que as provações são inesperadas.

Tiago diz:

Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações,

O termo passardes pode ser traduzido como “cairdes.” Essa foi a forma como a Almeida Revista e Corrigida traduziu e transmite corretamente a ideia de provações e tristezas inesperadas.

Essa palavra é usada somente duas vezes mais em todo o Novo Testamento. Uma ocorrência é em Atos 27, onde Lucas relata que o navio inesperadamente se deparou com um banco de areia e começou a se despedaçar. O outro lugar é em Lucas 10, verso 30, onde o Senhor Jesus conta a história do homem viajando para Jericó, o qual veio a cair em mãos de salteadores. De repente e sem alerta, esse homem é cercado por problemas e não há como ele escapar.

Essa é a ideia das provações aqui em Tiago 1. Acho interessante que a palavra traduzida como provações é o grego peirasmos, que está ligado a peirates, que significa “aquele que ataca.” Nós herdamos esse segundo termo, do qual derivamos a palavra “pirata.” E isso suscita na mente a imagem de uma aparição repentina de um navio pirata próximo ao seu.

Lá está você navegando, preocupado com seus próprios negócios e, do nada, surge uma sombra no convés do navio. Você olha para o lado e vê um navio pirata. Antes mesmo que perceba, já existem cordas ligando seu navio ao dos piratas.

Semelhantemente, aqui está você, desarmado, despreparado e sem suspeitar de nada. De repente, encontra-se nas garras dos Piratas da Provação.

“Com certeza, Tiago irá nos dizer como navegar para longe desses piratas!” Não, Tiago não nos diz como fugir deles; ele nos diz o que fazer quando nos encontramos com eles. Poderíamos ler o verso 2 da seguinte forma:

Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o encontrardes repentinamente uma grande variedade de provações,

Agora, assim como eu pensei sobre meu professor décadas atrás, você pode ser tentado a pensar que Tiago perdeu um ou dois parafusos. Ou então: “Bom, ele é um apóstolo; é dever dele dizer essas coisas.” Certifique-se apenas de que você não interpretou Tiago de forma errada aqui. Ele não disse que teríamos prazer nas provações; ele não disse que as provações produzirão em nós o sentimento de alegria. Ele não está dizendo que você deve entrar numa sala de hospital e gritar: “Anime-se, pessoal! Tiago nos mandou colocar um belo sorriso no rosto!” Não, Tiago disse: tende por motivo de toda alegria.

A expressão tende por motivo é um termo financeiro que pode significar “calcular” ou “contar,” “totalizar,” “somar.” O crente que entende perfeitamente que é um escravo de Deus, como vemos em Tiago 1, verso 1, pode ter alegria mesmo quando cercado de problemas porque ele vive para as coisas que mais importam.

Sua matemática espiritual, isto é, a maneira como ele soma a vida e seus valores, é radicalmente diferente agora que ele vive para a glória de Deus. O crente entende que as provações têm valor. E Tiago nos mostrará isto em seguida: as provações moldam o nosso caráter segundo o caráter de Cristo.

Não é surpresa alguma que Satanás deseja que as provações nos derrotem, enquanto Deus as usa para nos desenvolver. E o escravo de Deus sabe que seu Mestre, Deus, está no pleno controle de tudo. Gosto da forma como alguém disse isso ao escrever: “Satanás pode até aumentar o calor, mas Deus segura em sua mão o termostato.” É esse tipo de confiança, é esse tipo de submissão que possibilita com que nós, os escravos de Deus, avaliemos as provações e problemas com um espírito alegre ao invés de com um espírito murmurador, amargurado e ressentido.

Não consigo pensar numa ilustração melhor do que a de José. Segundo a análise do mundo, ele tinha todo o motivo para ficar amargurado e irado, e viver em constante reclamação. Seus irmãos o venderam como escravo; ele perdeu sua juventude, foi separado de sua família, cresceu numa terra estranha, foi vendido como escravo para um homem que finalmente mostrou misericórdia, dando-lhe uma posição de administração em sua casa. Além disso, depois que a esposa de seu patrão o acusou de ter tentado estuprá-la, ele foi lançado na prisão inocentemente. José interpretou o sonho do copeiro que, depois de libertado da prisão segundo a interpretação do sonho feita por José, esqueceu-se dele e José permaneceu no calabouço por vários anos.

Com um pouco de imaginação, diríamos que José poderia ter saído daquela prisão consumido de desconfiança e amargura para com as pessoas e ódio para com Deus. Por vários anos, ele vinha sendo tratado com injustiça; havia sido cercado de problemas e nenhum cuidado. Entretanto, ele emerge das sombras daquele calabouço com graça, equilíbrio, fé e encanto. Por quê? Porque cria que Deus havia orquestrado todas as coisas conforme o seu plano perfeito, o que incluía anos de sofrimento para o seu servo José.

As primeiras declarações de Tiago apresentam uma premissa: “Meus irmãos, considerem motivo de toda alegria quando se depararem com provações. Por quê? Porque Deus tem um produto final em mente.”

Antes de observarmos o produto, gostaria que você entendesse algo nessa premissa inicial de Tiago. Na verdade, se você se esquecer de todo o nosso estudo de hoje—e eu profetizo que você irá, mesmo que eu não seja um profeta nem filho de profeta—, quero você mantenha sempre em mente e não se esqueça desta premissa: você não escolhe as cruzes em sua vida, mas escolhe suas reações às cruzes. Você não escolhe as cruzes, mas escolhe suas reações.

Falando com sua experiência como prisioneiro num campo de concentração nazista, o doutor Viktor Frankl disse o seguinte: “Tudo pode ser arrancado de um ser humano, exceto uma coisa—a liberdade final do ser humano: a liberdade de escolher sua atitude diante das circunstâncias.” Não podemos escolher nossas cruzes, mas escolhemos nossas reações.

  • O Produto

Tiago continua nos versos 3 e 4 nos revelando o produto da perseverança:

sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.

A palavra perseverança é composta e significa “ficar debaixo de.” Trata-se da habilidade de permanecer firme sob as pressões.

Tiago diz: “Quero que você saiba o seguinte: quando sua fé é testada e desafiada, o resultado final é a perseverança.” Assim como pulmões desenvolvidos pelo exercício, também poderemos ficar debaixo d’água por mais tempo e conseguiremos correr mais longe. Sua fé prática vivida em público possui um poder constante.

Note como Tiago exorta os crentes no verso 4: Ora, a perseverança deve ter ação completa. Em outras palavras, não faça um curto-circuito na obra que Deus realiza em sua vida, tentando escapar das tribulações. Permita que a perseverança se desenvolva.” Esse acontece de ser um imperativo no grego. Poderíamos colocar um ponto de exclamação no final da frase: “Deixe a perseverança ter ação completa!”

E veja o resultado perfeito. O final do verso 4 diz: para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes. E todos dizem: “Ah, nem adiante tentar, estou muito longe da perfeição. Nenhuma das provações e dos problemas em minha vida me aproximou nem um centímetro da perfeição. Então, não existe motivo para me alistar nessa prática da perseverança.”

Mas a palavra traduzida como perfeitos se refere a um relacionamento com Cristo não dividido; um relacionamento puro com ele sem afeições divididas. Você é escravo de Cristo; lembre-se do verso 1.

E as provações conseguem realizar isso, não é verdade? Em meio aos sofrimentos, tudo o que o mundo oferece perde seu sentido; o apóstolo chama tudo de lixo. Todos os nossos apegos ao mundo, todos os apegos a nós mesmos, todos os apegos a coisas temporais começam a perder sua força e a se desgarrarem de nossas vidas. Daí, nosso foco passa a ser em Cristo e em sua suficiência. Conforme Hebreus 12, versos 1 a 3, nos diz, começamos a correr...

...com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.

E passamos a olhar para Cristo,

...aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma.

Tiago diz, com efeito: “As provações produzem afeições exclusivas a Cristo.” Ele continua no verso 4 afirmando que a perseverança nas provações produz maturidade.

A propósito, Tiago usa a palavra íntegros ou “maduros” mais do que qualquer outro autor do Novo Testamento. Maturidade é algo importantíssimo para Tiago. E por que não? A fé que realmente importa na vida—a fé que realmente faz diferença na vida—é a fé que está em constante crescimento. As provações não são matérias opcionais na Escola Divina da Maturidade Espiritual; as provações são matérias obrigatórias. Você precisa fazer as atividades, os testes e as provas.

Mas Tiago é realista. Ele sabe que, a fim de aceitarmos sua premissa e adotarmos uma atitude alegre—a fim de ficarmos firmes sob as pressões e permitirmos que os testes produzam maturidade na nossa fé—,temos que transpor um problema; pelo menos dois problemas.

  • O Problema

O primeiro problema que temos é que simplesmente não entendemos! Precisamos de sabedoria para ver a mão de Deus trabalhando. Precisamos de sabedoria para crer que a realidade das provações não significa que Deus desapareceu. Precisaremos de ajuda para crescer.

Nós tivemos quatro filhos e todos eles tiveram o mesmo problema; por volta dos oito meses de idade, o problema se tornou realmente grande. Eles chegaram a um ponto que não queriam mais dormir no berço sozinhos no quarto. Eles se levantavam e choravam, e choravam. A situação foi bem frustrante com nossos gêmeos especialmente porque, quando um começava, o outro acompanhava.

Seus filhos, assim como os nossos, imaginavam que, pelo fato de não poderem vê-lo, você não estava perto deles. Então, eles faziam um escândalo.

A  maioria dos pais entra no quarto e segura o filho por um tempo e depois o coloca de volta no berço. Mas isso era algo difícil para nós que tivemos gêmeos. Você pega um no colo e tem que pegar o outro também; daí eles se sentam lá e começam a perturbar um ao outro.

O que você deseja como um pai é que seu filho aprenda a dormir sozinho, sem estar nos seus braços. Isso porque, dentro de poucos meses, descobrirão como pular do berço e engatinhar até onde você está. Daí, amigo, você estará realmente com problemas.

Um jovem pai de nossa igreja me contou que ele e a esposa resolveram colocar uma proteção de tela ao redor do berço, com dobradiças e tudo; acho que deve existir leis contra isso, mas a ideia foi excelente.

Um dos melhores conselhos que nós recebemos foi o de esperar 10 minutos e depois voltar para o quarto onde o nosso filho estava gritando; daí, fazer um carinho na cabeça dele, pegar a chupeta, dar um abraço, deitá-lo, depois colocar o cobertor nele. Essa era uma maneira de dizer “boa noite” e depois sair.

O choro começa de novo. Esperávamos 15 minutos,  voltávamos e repetíamos o processo. Nem dávamos atenção ao fato de o rosto do bebê estar vermelho de tanto chorar, de o nariz estar escorrendo, de eles estarem mais bravos do que uma abelha. Simplesmente limpávamos o nariz, dávamos um abraço sem tirá-lo do berço, e depois o deitávamos de novo. Seu filho pode até se recusar a deitar, mas você diz “boa noite” e sai.

Depois, você espera 20 minutos, e assim vai. Finalmente, seu filho irá dormir de tão cansado. E você também! A essa altura, você mesmo está com seu cobertor e a sua chupeta. Descobrimos que depois de 3 ou 4 noites o problema estava resolvido.

Um sinal de maturidade física e mental é a habilidade que seu filho tem de dormir quando está sozinho. Um sinal de maturidade espiritual é a sabedoria para entender como descansar mesmo quando Deus parece estar ausente.

E Tiago sabe que todos nós precisamos desse tipo de crescimento, mas nós não entendemos. Se admitirmos isso e desejarmos crescimento e entendimento, Tiago diz no verso 5: peça-a Deus! (ponto de exclamação—outro imperativo). Se você precisa de sabedoria para avaliar seus problemas na vida com perseverança e alegria (e todo crente precisa), vá em frente e peça a Deus que a todos dá.

Gosto muito desta palavra: todos. Deus não possui favoritos; ele não diz: “Você não é um dos melhores alunos, então não vai receber tanta sabedoria como aquele lá.” Não! Deus dá a todos—note isto—liberalmente e nada lhes impropera. Ou seja, sem insulto. Isso significa que Deus nunca diz: “Você?! De novo?!” Ele simplesmente dá.

Note que Tiago não diz: “Se alguém precisa de conhecimento, peça a Deus.” Existe grande diferença entre conhecimento e sabedoria. Conhecimento é fatos e dados que aprendemos. Sabedoria é saber como aplicar corretamente aquilo que aprendemos.

A humanidade tem desenvolvido seu conhecimento em como viajar mais rápido que a velocidade do som. A sabedoria revela que a humanidade de um modo geral está viajando cada vez mais rápido na direção errada.

E não é interessante que Tiago nos manda pedir a Deus sabedoria? Por que não livramento, ou força, ou graça? Porque precisamos de sabedoria para não desperdiçarmos as oportunidades que Deus nos dá para crescer na fé e avançar em direção ao produto final, que é a maturidade espiritual.

Em seu comentário em Tiago, Warren Wiersbe conta sobre a secretária de sua igreja que estava passando por sérias provações. Seu marido havia perdido a visão e ela tinha sofrido um pequeno derrame. Daí, seu marido adoeceu e foi levado às pressas para o hospital, onde a maioria das pessoas imaginava que ele morreria. Wiersbe escreve: “Eu a vi na igreja um domingo e lhe garanti que estava orando por ela. Ela disse: ‘O que exatamente você está pedindo para Deus fazer?’” Essa pergunta espantou o pastor Wiersbe. Ele respondeu: “Bom, estou pedindo para que Deus a ajude e fortaleça.” Ela disse: “Muito obrigada, mas quero que você ore por mais uma coisa: ore para que eu tenha a sabedoria de não desperdiçar todo esse sofrimento.”

Wiersbe escreve: “Ela sabia o significado de Tiago 1.5. Ela pedia a Deus sabedoria para que seu sofrimento produzisse perseverança e não fosse desperdiçado.”

Agora, Tiago parte para uma advertência. Note os versos 6 e 7:

Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa.

E o crente em geral diz: “Bom, isso já me exclui. Eu preciso de sabedoria, mas duvido que Deus irá me conceder.”

Essa é uma interpretação infeliz. Tiago está, na verdade, descrevendo um homem perverso da mesma forma que Isaías descreve o homem perverso como o mar agitado.

Precisamos entender que Tiago não fala de alguém com dúvidas sinceras, ou talvez alguém com um senso de humildade mal orientado que presume que Deus tem coisa mais importante a fazer do que responder a sua oração. Tiago descreve uma pessoa que diz que deseja a direção de Deus na sua vida, mas, na realidade, está aberta para todas as demais opções. Tiago diz, com efeito: “Ninguém receberá sabedoria de Deus até que sua única opção seja submissão obediente a Deus.” Enquanto isso, Tiago escreve no verso 8: homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos.

A expressão ânimo dobre pode ser literalmente traduzida como “de duas almas;” um homem com duas almas, ou em nosso idioma, dois corações, duas direções. Portanto, Tiago se refere a alguém que constantemente muda sua lealdade. Como você vê, esse é um problema mais sério do que apenas duvidar que Deus responderá o seu pedido. Na realidade, é um problema relacionado à falta de disposição da pessoa para viver dentro da vontade de Deus.

Um outro autor chama esse indivíduo de “uma guerra civil ambulante,” na qual confiança e falta de confiança em Deus estão em constante batalha entre si.

A palavra para inconstante vem de um termo grego que significa “não ser capaz de se sossegar.” Ela carrega a ideia de nunca ter um compromisso na vida. Essa pessoa está inclinada para Deus um dia, e inclinada para o mundo no dia seguinte. Paulo utilizou a mesma palavra para descrever a confusão e desordem em 1 Coríntios 14, verso 33.

Então, peça com fé, o que significa que você está decidido que deseja a sabedoria de Deus para que obedeça à vontade de Deus.

  • A Perspectiva

Agora, vários estudiosos da Bíblia acreditam que o livro de Tiago é, na realidade, um sermão que ele pregou e outra pessoa escreveu. Uma indicação disso é que Tiago insere uma ilustração no meio de sua discussão sobre provações e perseverança. Note a ilustração nos versos 9 a 11:

O irmão, porém, de condição humilde glorie-se na sua dignidade, e o rico, na sua insignificância, porque ele passará como a flor da erva. Porque o sol se levanta com seu ardente calor, e a erva seca, e a sua flor cai, e desaparece a formosura do seu aspecto; assim também se murchará o rico em seus caminhos.

O ponto central da ilustração é perspectiva. O crente pobre e o crente rico percebem que estão no mesmo patamar no momento do sofrimento. Ambos recebem uma nova posição em Cristo, e é em Cristo que eles devem confiar.

O homem pobre precisa considerar sua alta posição como príncipe de Deus, mesmo quando a vida lhe diz que ele não passa de um número entre as demais pessoas na santa família de Deus. Já o rico precisa se lembrar de que sua confiança não pode estar na riqueza, porque ela pode murchar tão rapidamente como uma flor perde suas pétalas debaixo do sol escaldante do deserto.

  • A Promessa

Mas aqui está um homem verdadeiramente feliz. Note o verso 12:

Bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam.

O verso 12 é a declaração que conclui a discussão de Tiago sobre provações. Ele está na forma de uma bem-aventurança. Tiago soa bem parecido com o seu meio-irmão Jesus Cristo: “Bem-aventurado o homem!” Literalmente, “feliz, satisfeito é o homem que persevera.”

E a propósito, isso não é um desejo—“espero que você seja abençoado, espero que fique satisfeito.” Esse verso é um veredito. Você é abençoado, você é satisfeito; tanto agora, como também depois, conforme Tiago escreve aqui, quando receber a coroa da vida.

Tiago não sugere que você pode merecer a vida eterna ao perseverar nos sofrimentos. Ele diz que o crente pode se tornar merecedor de uma coroa, recompensas singulares por ter sofrido com alegria. Você não escolhe suas cruzes, mas escolhe suas reações. E um dia você será recompensado por todas as vezes que escolheu reagir com fé, sabedoria, oração e alegria.

Conclusão

John Philips registrou em seu comentário uma história contada por Howard Hendricks numa conferência anual do Instituto Bíblico Moody. Deixe-me apenas ler isto para finalizar o nosso estudo:

Numa certa ocasião, Howard Hendricks teve a oportunidade de jogar damas contra o jogador campeão da cidade. Na época, Hendricks era um jovem rapaz bastante confiante, que pensava que poderia encarar aquele jogador veterano. Ele começou o jogo e decidiu estabelecer o ritmo. Após uns poucos movimentos, seu oponente lhe entregou uma peça e disse: “Pode comer.” Hendricks comeu e tirou a peça com triunfo do tabuleiro. Ele pensou que estava com a partida no bolso quando, de repente, seu adversário colocou outra peça sob ameaça e disse: “Você terá que comer de novo.” Todo satisfeito, Hendricks comeu aquela peça. Daí, aconteceu. O velho homem pegou uma de suas peças e simplesmente começou a comer, comer, comer, e comer. Sua peça pulou vários cantos do tabuleiro, levando 4 das peças de Hendricks com bastante precisão. E a peça do homem chegou à linha final. E ele disse: “Coroa de dama.” Depois disso, o jovem Hendricks não teve chance alguma quando aquela dama comeu uma por uma de suas peças, até que ele perdeu tudo. Daí, o Dr. Hendricks destacou a lição: “Um bom jogador de dama não se importa em perder algumas peças [e ele o faz com alegria], desde que saiba que está indo em direção à [uma coroa].”

Meu amigo, não podemos escolher nossas cruzes, mas podemos escolher nossas reações. E que maneira maravilhosa de encorajar cada um de nós no final desta discussão, dizendo, como Tiago disse aqui, que um dia nossa cruz será substituída por uma coroa. Então, continue jogando; o dia da coroa em breve chegará.

 

Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no ano de 2010

© Copyright 2010 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

 

 

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