A Saga de Dois Filhos

A Saga de Dois Filhos

by Stephen Davey Ref: Genesis 25

A Saga de Dois Filhos

Gênesis 25–27

Introdução

Em nosso último estudo, deixamos na tenda um casal de apaixonados: Isaque e Rebeca. Abraão enviou seu servo para sua terra, a fim de encontrar uma esposa para seu filho Isaque. O servo encontra Rebeca e ela prontamente vai com ele para os braços do marido prometido. Uma história de amor começou.

O triste é que, aquilo que começou como ideal acabou se transformando em aflição. Como alguém disse: “O casamento dos dois se tornaria como um violino: as cordas ainda estavam boas, mas a música tinha parado.” Por que aquilo que começou como um conto de fadas acabaria num desastre? A resposta é vista nessa saga dos dois filhos.

O Nascimento e as Divisões

O primeiro capítulo da saga dos dois filhos é Gênesis 25 e esse é o capítulo do nascimento e das divisões. Veja os versos 20–21:

era Isaque de quarenta anos, quando tomou por esposa a Rebeca, filha de Betuel, o arameu de Padã-Arã, e irmã de Labão, o arameu. Isaque orou ao SENHOR por sua mulher, porque ela era estéril...

Pule para o verso 26: Era Isaque de sessenta anos, quando Rebeca lhos deu à luz. Isso significa que Rebeca permaneceu estéril por 20 anos; ela esperou e ele orou persistentemente a Deus para realizar sua promessa.

Isaque era o próximo patriarca na fila, de cuja linhagem viria o Messias. Ele ora e testemunhamos um retrato belo de unidade no lar entre Isaque e Rebeca. Como líder espiritual, ele intercede a Deus e sua esposa aguarda pacientemente. Isso sugere que 20 anos formaram um alicerce sólido que pensaríamos ser inabalável.

Nos versos 21–25, vemos que a oração é respondida:

Isaque orou ao SENHOR por sua mulher, porque ela era estéril; e o SENHOR lhe ouviu as orações, e Rebeca, sua mulher, concebeu. Os filhos lutavam no ventre dela; então, disse: Se é assim, por que vivo eu? E consultou ao SENHOR. Respondeu-lhe o SENHOR: Duas nações há no teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte que o outro, e o mais velho servirá ao mais moço. Cumpridos os dias para que desse à luz, eis que se achavam gêmeos no seu ventre. Saiu o primeiro, ruivo, todo revestido de pêlo; por isso, lhe chamaram Esaú. 

Esse bebê era uma bolinha de pelo vermelho. Por isso, lhe chamaram Esaú, que significa “vermelho;” em árabe, significa “peludo.” Continue no verso 26:

Depois, nasceu o irmão; segurava com a mão o calcanhar de Esaú; por isso, lhe chamaram Jacó. Era Isaque de sessenta anos, quando Rebeca lhos deu à luz.

O segundo nasce segurando o calcanhar do primeiro; por isso, é chamado Jacó. O nome significa “suplantador,” e “suplantador” significa “tomar o lugar de.” Jacó, de fato, tomará o lugar do primogênito, algo que está fora de ordem na linhagem patriarcal, já que o mais velho era quem recebia a bênção. Jacó agarra o calcanhar de Esaú, como que dizendo: “Não, eu vou ser o primeiro!” Mas acabou chegando em segundo.

Agora, o álbum dessa família não está completo, já que as fotografias seguintes pulam décadas de história. Veja o verso 27:

Cresceram os meninos. Esaú saiu perito caçador, homem do campo; Jacó, porém, homem pacato, habitava em tendas.

Conforme veremos depois, Esaú era o filho amado do pai Isaque, o qual contava dos feitos valentes de seu filho caçador. Esaú era o tipo de homem corajoso, destemido, robusto, que não somente caçava, mas carregava quatro vigas de madeira nas costas para consertar a cerca. Jacó era um homem mais pacato que gostava de ficar em casa.

Agora, o verso 28 é, provavelmente, o mais trágico em relação à criação desses filhos:

Isaque amava a Esaú, porque se saboreava de sua caça; Rebeca, porém, amava a Jacó.

Isaque tinha orgulho de seu filho mais velho e recusou crer que a bênção seria passada a Jacó. A coisa mais trágica é a implicação de divisão no casal.

Para Rebeca, Esaú é aquele filho que entra na tenda com os pés sujos de lama; quando aparecia algo quebrado, ela sabia que tinha sido Esaú. Jacó era o filhinho da mamãe que gostava de ficar na tenda. Ele era um homem mais sensível, reflexivo e que ajudava sua mãe. Ela amava Jacó.

Essa divisão entre os pais produzirá um fruto muito amargo, trazendo desunião não somente no casamento, mas também no lar inteiro. Esses pais decidiram que mostrariam parcialidade com os filhos—amariam um mais do que o outro.

Deixe-me dizer algo aos pais. Quer seu filho tenha 3, 13 ou 30 anos, ele ainda ouve aquilo que foi dito no passado. Tenho certeza que você sabe como crianças entendem de forma incrível as críticas baseadas em comparações. Talvez você mesmo ouviu isso enquanto crescia: “Sua irmã nunca tirou nota baixa, sempre tira acima de 9;” ou, “Seu irmão sempre arruma o quarto; por que você também não arruma?” Essas são críticas feitas em comparação. E o resultado será o seguinte: seu filho entenderá isso e aprenderá a manipular os pais com base nas diferenças que os pais gostam.

Fico apenas imaginando: se Esaú quisesse alguma coisa de seu pai, seria fácil conseguir—mata mais um pato e prepara um assado para o pai. Depois, Isaque diria algo como: “Aqui estão as chaves, meu filho.” Se Jacó quisesse algo de sua mãe, ele diria: “Mamãe, pode deixar que faço o jantar hoje.” Ele sabia manipular sua mãe.

Esaú e Jacó aprenderam a tirar vantagem dessas diferenças, algo que ficará ainda mais evidente no capítulo 27. A divisão aumenta mais a cada dia.

Agora, havia também uma divisão entre os dois filhos em relação às coisas espirituais. Veja Gênesis 25.29–32:

Tinha Jacó feito um cozinhado, quando, esmorecido, veio do campo Esaú e lhe disse: Peço-te que me deixes comer um pouco desse cozinhado vermelho, pois estou esmorecido. Daí chamar-se Edom. Disse Jacó: Vende-me primeiro o teu direito de primogenitura. Ele respondeu: Estou a ponto de morrer; de que me aproveitará o direito de primogenitura?

Agora, deixe-me explicar o que era esse direito de primogenitura. Aprendemos em passagens do Antigo Testamento (como Deuteronômio 21; 1 Crônicas 5) que esse direito envolvia bênçãos materiais e espirituais. O primogênito ganharia porção dobrada de terra quando o pai morresse. Mais importante do que isso, ele receberia a bênção espiritual de ser o cabeça da família, o líder espiritual. Esaú era um homem terreno, carnal e que não se preocupava em ser um líder espiritual; ele está com fome e diz: “Não estou nem aí para esse negócio de ser um gigante espiritual! Estou é com fome!” Por causa de seu desdém pelas coisas espirituais, lemos no verso 33:

Então, disse Jacó: Jura-me primeiro. Ele jurou e vendeu o seu direito de primogenitura a Jacó.

Agora, Jacó age de forma errada aqui. Entenda bem que não estou justificando sua atitude, mas por trás de sua metodologia errada estava o desejo de ter a liderança espiritual. Ele receberia a liderança, já que Deus havia determinado; ele deveria apenas ter esperado o tempo e a maneira de Deus. Veja o verso 34:

Deu, pois, Jacó a Esaú pão e o cozinhado de lentilhas; ele comeu e bebeu, levantou-se e saiu...

A atitude de Esaú é descrita até de forma grosseira no texto: ele comeu, bebeu e foi embora sem nem pensar no que tinha feito. Somente depois ele perceberá o erro quando observar sua desvantagem material. O final do verso 24 diz: Assim, desprezou Esaú o seu direito de primogenitura.

Talvez você pense que estou sendo muito severo com Esaú; então, vamos dar mais um passo. Deixe-me mostrar o verdadeiro caráter de Esaú com base em Hebreus 12.15–16:

atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados; nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura.

O termo impuro nesse verso significa que Esaú não tinha desejo ou discernimento espiritual algum; ele era um homem totalmente rendido aos prazeres da carne; a pergunta que ele encarou foi: “Prefiro a comida ou o direito de ser o líder espiritual dessa família de quem virá o Messias?” Esaú escolheu a comida.

Isso foi algo trágico. Agora, entenda bem que Gênesis 25 não pinta Esaú como um amalequita pagão; ele é filho de Isaque, neto de Abraão, um homem de grande fé. Se alguém nasceu para este mundo com vantagens espirituais, esse alguém foi Esaú.

Deixe-me fazer algumas observações rápidas e fornecer princípios de herança espiritual.

  • Primeiro: herança piedosa jamais faz da espiritualidade algo inevitável.
  • Segundo e inverso do primeiro: uma herança ímpia não faz da espiritualidade algo impossível.

Em Gênesis 26, lemos que uma fome assola a terra de Isaque; por isso, ele foge para o rei Abimeleque e comete exatamente o mesmo erro que seu pai cometeu: pelo fato de sua esposa Rebeca ser bonita e temer que o povo o mate para ficar com ela, ele diz que ela é sua irmã. Engano, evidentemente, corria no sangue dessa família. Esaú e Jacó estavam talvez com 40 anos e viram o engano de seus pais, um exemplo perverso. Mesmo assim, um dos rapazes possuía discernimento espiritual.

Creio que vivemos numa era de paranoia parental. Deveria haver sabedoria na multidão de conselheiros, mas hoje há loucura. Muitos são os livros no assunto de criação de filhos; alguns são bons, mas entenda bem que, ao lê-los, você ficará muito confuso. Suas convicções a esse respeito devem ser definidas sob a direção de Deus.

Existe uma solução para essa paranoia—e ela não está em mais um livro. A solução é entender que Deus é o doador do desejo espiritual. Nós, pais, vivemos como se tudo dependesse de nós, mas, no fim, precisamos entender que é o Espírito de Deus quem atrai nossos filhos a Deus, independente da idade. Você pode fazer tudo errado, mas seu filho ainda findar sendo um santo poderoso nas mãos de Deus. Mas você deseja fazer tudo direito para remover o maior número de obstáculos que encontrarão quando decidirem entregar suas vidas a Cristo.

Traição e Engano

No capítulo 27, começa o cenário de traição e engano; veja os versos 1–4:

Tendo-se envelhecido Isaque e já não podendo ver, porque os olhos se lhe enfraqueciam, chamou a Esaú, seu filho mais velho, e lhe disse: Meu filho! Respondeu ele: Aqui estou! Disse-lhe o pai: Estou velho e não sei o dia da minha morte. Agora, pois, toma as tuas armas, a tua aljava e o teu arco, sai ao campo, e apanha para mim alguma caça, e faze-me uma comida saborosa, como eu aprecio, e traze-ma, para que eu coma e te abençoe antes que eu morra.

Entenda bem que essa bênção deveria ser algo público, um tempo de grande celebração e toda a família, servos e vizinhos eram convidados; a ocasião era uma festa. Esaú está prestes a receber a bênção, que é a ratificação oficial do direito de primogenitura; e o que Isaque planeja fazer? Ele dará a bênção furtivamente, somente entre si mesmo e Esaú. Por que? Lembre-se do que Deus disse a Rebeca em Gênesis 25.23: o mais velho servirá ao mais moço.

Um dos problemas foi que Isaque teimosamente recusou se submeter à vontade de Deus; ele pensou que conseguiria afrontar Deus e negá-lo nessa área. Então, ele decide chamar seu filho e abençoá-lo logo às escondidas antes que alguém descubra; seria tarde demais para Jacó.

Mal sabe ele que a esposa Rebeca está com um copo contra a parede da tenda ouvindo a conversa. Veja Gênesis 27.5–10:

Rebeca esteve escutando enquanto Isaque falava com Esaú, seu filho. E foi-se Esaú ao campo para apanhar a caça e trazê-la. Então, disse Rebeca a Jacó, seu filho: Ouvi teu pai falar com Esaú, teu irmão, assim: Traze caça e faze-me uma comida saborosa, para que eu coma e te abençoe diante do SENHOR, antes que eu morra. Agora, pois, meu filho, atende às minhas palavras com que te ordeno. Vai ao rebanho e traze-me dois bons cabritos; deles farei uma saborosa comida para teu pai, como ele aprecia; levá-la-ás a teu pai, para que a coma e te abençoe, antes que morra.

Jacó era, como sua mãe, um enganador; e ele encontra algumas falhas no plano dela. Continue nos versos 11–12:

Disse Jacó a Rebeca, sua mãe: Esaú, meu irmão, é homem cabeludo, e eu, homem liso. Dar-se-á o caso de meu pai me apalpar, e passarei a seus olhos por zombador; assim, trarei sobre mim maldição e não bênção.

Em outras palavras, “Talvez meu pai que é cego ficará ofendido que eu tenha tirado vantagem de sua cegueira.” Jacó não queria zombar e enganar seu pai Isaque dessa maneira, tirar vantagem de sua cegueira. Então, ele decide garantir de todas as maneiras que seu pai não o pegará em flagrante. Continue nos versos 13–16:

Respondeu-lhe a mãe: Caia sobre mim essa maldição, meu filho; atende somente o que eu te digo, vai e traze-mos. Ele foi, tomou-os e os trouxe a sua mãe, que fez uma saborosa comida, como o pai dele apreciava. Depois, tomou Rebeca a melhor roupa de Esaú, seu filho mais velho, roupa que tinha consigo em casa, e vestiu a Jacó, seu filho mais novo. Com a pele dos cabritos cobriu-lhe as mãos e a lisura do pescoço.

Essa precaução seria no caso de Isaque querer abraçar seu filho após dar a bênção, algo que provavelmente faria. Continue nos versos 17–20:

Então, entregou a Jacó, seu filho, a comida saborosa e o pão que havia preparado. Jacó foi a seu pai e disse: Meu pai! Ele respondeu: Fala! Quem és tu, meu filho? Respondeu Jacó a seu pai: Sou Esaú, teu primogênito; fiz o que me ordenaste. Levanta-te, pois, assenta-te e come da minha caça, para que me abençoes. Disse Isaque a seu filho: Como é isso que a pudeste achar tão depressa, meu filho? Ele respondeu: Porque o SENHOR, teu Deus, a mandou ao meu encontro.

Que blasfêmia! Jacó mete Deus em seu engano! Continua na narrativa; versos 21–27:

Então, disse Isaque a Jacó: Chega-te aqui, para que eu te apalpe, meu filho, e veja se és meu filho Esaú ou não. Jacó chegou-se a Isaque, seu pai, que o apalpou e disse: A voz é de Jacó, porém as mãos são de Esaú. E não o reconheceu, porque as mãos, com efeito, estavam peludas como as de seu irmão Esaú. E o abençoou. E lhe disse: És meu filho Esaú mesmo? Ele respondeu: Eu sou. Então, disse: Chega isso para perto de mim, para que eu coma da caça de meu filho; para que eu te abençoe. Chegou-lho, e ele comeu; trouxe-lhe também vinho, e ele bebeu. Então, lhe disse Isaque, seu pai: Chega-te e dá-me um beijo, meu filho. Ele se chegou e o beijou.

Imagino que essa tenha sido a primeira vez que Isaque beijou Jacó como adulto, já que seu filho predileto era Esaú. Também imagino que a situação foi desconfortável para Jacó e deve até ter chorado. Não sei. A história é trágica. Continue nos versos 27–29:

Então, o pai aspirou o cheiro da roupa dele, e o abençoou, e disse: Eis que o cheiro do meu filho é como o cheiro do campo, que o SENHOR abençoou; Deus te dê do orvalho do céu, e da exuberância da terra, e fartura de trigo e de mosto. Sirvam-te povos, e nações te reverenciem; sê senhor de teus irmãos, e os filhos de tua mãe se encurvem a ti; maldito seja o que te amaldiçoar, e abençoado o que te abençoar.

 

A Bênção e a Partida

Pronto, o engano foi finalizado. Tragicamente, ele está prestes a ser descoberto. A dissimulação vem a lume nos versos 30–33:

Mal acabara Isaque de abençoar a Jacó, tendo este saído da presença de Isaque, seu pai, chega Esaú, seu irmão, da sua caçada. E fez também ele uma comida saborosa, a trouxe a seu pai e lhe disse: Levanta-te, meu pai, e come da caça de teu filho, para que me abençoes. Perguntou-lhe Isaque, seu pai: Quem és tu? Sou Esaú, teu filho, o teu primogênito, respondeu. Então, estremeceu Isaque de violenta comoção...

É como se Isaque percebesse que, apesar de haver resistido a vontade de Deus por 38 anos, e mesmo com o seu plano para abençoar Esaú às escondidas, Jacó veio e recebe a bênção no lugar do primogênito. E é aqui que algo incrível acontece no verso 33:

...e disse: Quem é, pois, aquele que apanhou a caça e ma trouxe? Eu comi de tudo, antes que viesses, e o abençoei, e ele será abençoado.

É como se Isaque, entre o começo e o fim desse momento de engano, finalmente chegasse à conclusão de que não deveria ter resistido a vontade de Deus; ele diz: “Esaú, meu filho, me desculpe, mas Jacó será o abençoado.” Isaque, por fim, se submete ao querer de Deus.

Lemos a reação de Esaú nos versos 34–38:

Como ouvisse Esaú tais palavras de seu pai, bradou com profundo amargor e lhe disse: Abençoa-me também a mim, meu pai! Respondeu-lhe o pai: Veio teu irmão astuciosamente e tomou a tua bênção. Disse Esaú: Não é com razão que se chama ele Jacó? Pois já duas vezes me enganou: tirou-me o direito de primogenitura e agora usurpa a bênção que era minha. Disse ainda: Não reservaste, pois, bênção nenhuma para mim? Então, respondeu Isaque a Esaú: Eis que o constituí em teu senhor, e todos os seus irmãos lhe dei por servos; de trigo e de mosto o apercebi; que me será dado fazer-te agora, meu filho? Disse Esaú a seu pai: Acaso, tens uma única bênção, meu pai? Abençoa-me, também a mim, meu pai. E, levantando Esaú a voz, chorou.

Esaú derrama lágrimas de crocodilo; essas não são lágrimas porque Esaú desejava o direito de primogenitura—a bênção—mas porque reconhece, conforme seu pai acabou de dizer, que ele viverá numa terra escassa. Jacó terá os cereais; Jacó será o senhor; e Esaú diz: “Não! Eu quero isso!”

Porém, agora já era tarde demais. Seu pai Isaque profetiza; essa é, de fato, uma profecia. A profecia não serve para condenar Esaú, mas simplesmente para dizer o que aconteceria a Esaú. Veja os versos 39–41:

Então, lhe respondeu Isaque, seu pai: Longe dos lugares férteis da terra será a tua habitação, e sem orvalho que cai do alto. Viverás da tua espada e servirás a teu irmão; quando, porém, te libertares, sacudirás o seu jugo da tua cerviz. Passou Esaú a odiar a Jacó por causa da bênção, com que seu pai o tinha abençoado; e disse consigo: Vêm próximos os dias de luto por meu pai; então, matarei a Jacó, meu irmão

Não havia desejo espiritual algum em Esaú; ele ainda era um homem terreno e carnal.

As tragédias desse lar e algumas coisas que causaram grande parte dos problemas existem nos casamentos de hoje. Permita-me destacar dois problemas principais que causam discórdia matrimonial.

  • Para os homens, podemos chamar esse problema de “teimosia.”

Quantas mulheres se casaram com homens teimosos? Eu sei que minha esposa se casou com um. Por que um homem dirige completamente perdido, mas não para para pedir ajuda? Esse exemplo está fresco na minha mente porque eu mesmo fiz isso na semana passada. A família inteira estava no carro e íamos para a casa de alguns amigos da igreja. Como eu já tinha ido lá uma vez, pensei: “Ah, eu sei como chegar lá. Não preciso de mapa.” Findamos dirigindo pela cidade por uns 30 minutos até que finalmente parei para pedir ajuda. Minha teimosia causou discórdia entre mim e minha esposa.

  • No caso das mulheres, creio que um problema sério é o da “manipulação.”

Agora é a vez das mulheres. Antes de as mulheres dizerem aos seus maridos o que querem fazer nas férias, existe a tendência de prepararem o prato favorito do marido.

Por que nós, homens, temos a tendência de ser teimosos e as mulheres de serem manipuladoras? Isso tudo volta ao que Deus disse ao homem que aconteceria como resultado do pecado: o homem desejaria controlar, dominar a esposa, o que envolve teimosia; a mulher tentaria fazer sua vontade e coloca-la acima da liderança do marido. O desejo da mulher seria de manipular o homem.

Encontramos essas características no casamento de Isaque e Rebeca, e elas destruíram aquele matrimônio; e podem destruir os nossos hoje também.

Aplicação

Agora, quero ressaltar as consequências da desarmonia naquele lar. Existem pelo menos três.

  • A primeira consequência foi tristeza.

Veja Gênesis 26.34–35:

Tendo Esaú quarenta anos de idade, tomou por esposa a Judite, filha de Beeri, heteu, e a Basemate, filha de Elom, heteu. Ambas se tornaram amargura de espírito para Isaque e para Rebeca.

Esaú tomou para si duas mulheres e elas não eram da tribo de Abraão, mas eram cananeias, pagãs. Todo o mimo e amor do pai foi logo desdenhado. Por que? Porque o filho cresceu e percebeu engano e parcialidade.

Penso na tristeza que Isaque deve ter sentido quando reconheceu, depois que abençoou Jacó, que havia tido oportunidades; ele havia tido anos para abençoar seu filho e desenvolver um relacionamento com ele, amá-lo; mas ele virou as costas para ele, foi parcial, e amou Esaú.

Agora, Isaque descobre que Jacó será o próximo patriarca. Isaque deve ter lembrado do relacionamento que ele tivera com seu pai Abraão, um relacionamento próximo; quem sabe ele relembrou a viagem ao monte Moriá, onde ele e seu pai, de braços dados, subiram para fazer a vontade de Deus. Agora, Isaque perdeu seu filho. Que tristeza deve ter sentido!

  • A segunda consequência foi a separação.

A essa altura, a família está despedaçada; ambos os filhos se foram; Isaque e Rebeca são um casal que enganou e mentiu um ao outro por décadas. Eles começaram como um conto de fadas, mas vivem agora num silêncio vergonhoso.

Talvez a implicação mais triste dessa separação aparece em Gênesis 27.42–43, onde Rebeca engana mais uma vez:

Chegaram aos ouvidos de Rebeca estas palavras de Esaú, seu filho mais velho; ela, pois, mandou chamar a Jacó, seu filho mais moço, e lhe disse: Eis que Esaú, teu irmão, se consola a teu respeito, resolvendo matar-te. Agora, pois, meu filho, ouve o que te digo: retira-te para a casa de Labão, meu irmão, em Harã;

A tragédia foi que Jacó se foi, não por 20 dias, mas por 20 anos. Ele não veria mais sua mãe; ela não veria mais seu filho querido. Na verdade, a próxima vez que Jacó volta a Canaã é quando ele vai com Esaú sepultar Isaque, seu pai.

Rebeca foi uma mulher que queria as coisas do seu jeito; ela estava disposta a manipular, controlar. Ao invés de confiar em Deus, Rebeca mandou Jacó embora sem saber que não mais o veria.

  • Creio que a terceira consequência foi o silêncio.

Outra trágica consequência é que Isaque e Rebeca só aparecem novamente no relato bíblico no capítulo 35 quando são sepultados. Isso significa que Isaque não estava prestes a morrer, mas que desejou apenas abençoar logo Esaú às escondidas; ele viveu por mais 40 anos. Fico imaginando que os últimos 40 anos de Isaque e Rebeca foram anos de profunda tristeza.

Então, qual é a solução para a desarmonia? Vou mencionar três.

  • Primeiro: respeito, especialmente por parte das mulheres—não manipule.

Talvez você esteja casada com um homem muito teimoso, quem sabe um descrente, e você ora por ele. Será que você consegue descansar nos braços soberanos de Deus, o qual está no controle de tudo?

  • A segunda solução é para os maridos: amem suas esposas.

Essa é a ordem clara de Deus para nós em Efésios 5.25.

  • A terceira solução é a instrução.

Efésios 6.4 diz:

E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor.

Precisamos reconhecer que é Deus quem dá crescimento espiritual aos nossos filhos e que neste exato momento, independente de onde esteja, Deus está no controle. Mesmo assim, precisamos ser o melhor exemplo possível de vidas piedosas, pois eles constantemente nos observam.

Essa foi a saga de dois filhos, mas é, na realidade, sobre uma família de quatro pessoas. Talvez eu tenha falado a:

  • Um Isaque que resiste a vontade de Deus, que teimosamente resiste o desejo de Deus porque ele não se encaixa em seus planos;
  • Uma Rebeca que planeja sua própria vida e a pessoa mais importante é ela mesma;
  • Um Jacó que vive uma mentira, que engana—é um marido enganador, um filho enganador, um aluno, professor ou chefe enganador;
  • Um Esaú, alguém que nunca aceitou o direito de primogenitura e, portanto, nunca o possuiu; alguém que não tem discernimento ou desejo espiritual algum. No seu caso, você precisa se acertar com o Messias e aceita-lo como seu Salvador.

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